PCOG - Tese de doutoramento
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- Contraexemplos e raciocínio dedutivoPublication . Couto, Marta Barley de La Cueva; Quelhas, Ana Cristina; Byrne, Ruth M. J.Este trabalho foi desenvolvido com o objectivo de contribuir para uma compreensão mais alargada do modo como os sujeitos utilizam os contraexemplos no raciocínio condicional, quando são utilizados conteúdos que remetem para situações comuns do quotidiano. Não existem dúvidas de que as pessoas são capazes de recuperar contraexemplos, vários estudos atestam esta capacidade (e.g. Couto, Quelhas & Juhos, 2010; De Neys & Everaerts, 2008; De Neys, Schaeken & D’ydewalle, 2002; Neys, Schaeken & d'Ydewalle, 2003b;Verschueren, Schaeken, De Neys & d'Ydewalle, 2004). No entanto, a forma como os sujeitos recuperam e utilizam contraexemplos, carece ainda de esclarecimentos. Para cumprir este objectivo geral, construímos dois conjuntos de experiências que incidem em dois factores importantes. Em primeiro lugar investigámos a recuperação de contraexemplos e aceitação de inferências, com avisos e conselhos. Na experiência 1, verificámos que os sujeitos são capazes de gerar contraexemplos para ambos os tipos de frase, mas não o fazem com igual frequência para avisos e conselhos. Em seguida, nas Experiências 2 e 3 investigámos o impacto da disponibilidade (Experiência 2) e da recuperação (Experiência 3) de contraexemplos, nas inferências que os sujeitos fazem, tendo concluído com alguma surpresa que este impacto é muito pequeno ao contrário do que se sabe acontecer com condicionais causais (e.g. Byrne, Espino & Santamaria, 1999; Couto, Quelhas & Juhos, 2010; Cummins, 1995; Cummins, Lubart, Alksnis & Rist, 1991). Ainda no primeiro no conjunto de experiências, avaliámos os padrões de interpretação que os sujeitos fazem com base nestas condicionais (Experiência 4), tendo concluído que existe uma variabilidade grande das interpretações que os sujeitos fazem. No segundo conjunto de experiências, recorremos a frases causais para estudar o impacto da recuperação de contraexemplos adicionais. A Experiência 5 demonstra que a recuperação de contraexemplos é um processo pouco fluente e que esta sensação de falta de fluência afecta o valor que os sujeitos atribuem aos contraexemplos, conduzindo a um padrão de supressão de inferências contrário à informação que foi recuperada. A Experiência 6 esclarece que o padrão de supressão reportado na Experiência 5 se deve às dificuldades de recuperação dos contraexemplos. Quando estes são fornecidos aos sujeitos, em vez de recuperados da memória, o padrão de supressão corresponde ao conteúdo que foi apresentado, ou seja, mais contraexemplos conduzem a maior supressão. Na Experiência 7 confrontámos contraexemplos e a frequência de Excepções, tendo concluído que os sujeitos parecem preferir a informação probabilística, à informação que decorre dos contraexemplos. No geral, os nossos resultados mostram três factos importantes. Em primeiro lugar que o conhecimento que é recuperado durante o raciocínio tem diferentes funções para diferentes tipos de condicionais, isto é, os contraexemplos recuperados para Advice têm uma função diferente dos contraexemplos recuperados para condicionais causais. Além disto, mostra ainda que o processo de recuperação de contraexemplos é pouco fluente e as pessoas parecem preferir utilizar a informação probabilística. Por fim, esclarece que os dois factores acima mencionados ajudam a explicar as diferenças que têm sido encontradas na literatura sobre o peso que cada contraexemplo adicional tem na aceitação de inferências.
- Dever fazer ou querer fazer, eis a questão : Como as crianças raciocinam sobre as intenções: Inferências de falsas crenças e contrafactuaisPublication . Rasga, Célia Maria Batalha Silva; Quelhas, Ana Cristina; Byrne, Ruth M. J.O nosso trabalho propõe explorar a compreensão das crianças acerca das razões que os outros têm para as acções. Trabalhos anteriores mostraram que as pessoas tendem a pensar sobre as acções de forma diferente quando têm conhecimento sobre as razões para uma acção. Um passo importante para a compreensão das acções de outras pessoas é o raciocínio sobre as suas intenções (Walsh & Byrne, 2007; Juhos, Quelhas & Byrne, 2015). Ao longo de seis experiências, pretendemos explorar este efeito do conhecimento sobre as razões para as acções, aquando de raciocínios contrafactuais e de falsas crenças, ampliando-o ao desenvolvimento das crianças.Transversal a todas as experiências, as crianças foram testadas com uma nova tarefa:a tarefa de mudança de intenções, a qual analisou cenários onde um actor tem uma razão inicial (desejo ou obrigação) para uma acção, que é posteriormente alterada. A primeira experiência demonstrou que crianças de 6 anos não compreendem que os outros podem ter falsas crenças sobre as razões de um actor para uma acção, enquanto aos 8 anos evidenciam uma compreensão de falsas crenças sobre intenções. Adicionalmente, a experiência mostrou que aos 6 anos as inferências contrafactuais são mais precisas sobre as razões para as acções. A experiência mostrou ainda que as crianças mais novas tendem a centrar-se nas obrigações quando sustentam o seu raciocínio em falsas crenças.A segunda experiência, com crianças de 7 e 9 anos, mostrou que esta compreensão continua a desenvolver-se ao longo destes anos. A terceira experiência reforça o padrão encontrado na primeira experiência, mesmo quando a tarefa é simplificada, ou seja, quando não existe um conflito entre razões para a acção. A quarta experiência explorou os resultados encontrados anteriormente num contexto socioeconómico baixo. Esta experiência mostrou que as crianças de 6 anos cometem mais erros nas inferências de falsas crenças do que nas inferências contrafactuais, no entanto, estas crianças tendem a centrar-se mais nos desejos aquando de inferências de falsas crenças, contrariamente às experiências anteriores. A experiência cinco, analisou um contexto de um planeta distante, e os resultados foram consistentes com os anteriores. As crianças mais novas fazem menos inferências de falsas crenças que contrafactuais, e estas crianças tendem a centrar-se mais nas obrigações aquando de inferências de falsas crenças, mesmo num contexto desconhecido e distante, e na ausência de uma figura parental. A última experiência explorou este efeito em crianças com diagnóstico de autismo de alto funcionamento. Os resultados revelaram que as crianças mais novas, de 6 e 8 anos tendem também a centrar-se nas obrigações e fazem menos inferências correctas de falsas crenças do que contrafactuais, quando comparadas a um grupo de crianças em desenvolvimento normal. Estes resultados contribuem para a discussão aberta sobre a relação entre o pensamento contrafactual e a teoria da mente, como também traz alguma luz sobre como as crianças pensam as diferentes razões para as acções.
- Efeitos da familiaridade em julgamentos de duraçãoPublication . Fernandes, Alexandre; Garcia-Marques, TeresaA familiaridade tem o efeito de dilatar a nossa experiência subjetiva da duração de um estímulo ou evento. Este efeito tem sido essencialmente associado a dois níveis de alterações no processamento de propriedades não-temporais do estímulo: a eficiência no processamento dessas informações, e a experiência subjetiva de fluência desse mesmo processamento. Os trabalhos desenvolvidos nesta tese tiveram como principal objectivo contrastar as duas explicações teóricas que se sustentam nessas vias de processamento, mas até aqui sem fundamentação empírica. Nomeadamente, uma hipótese atencional, enquadrada em modelos dedicados de processamento de informação (i.e., relógio-interno) no campo da percepção de tempo, e uma hipótese atribucional de fluência, enquadrada em modelos generalistas de decisão e julgamento. Num primeiro estudo meta-analítico, integrando a literatura experimental sobre o efeito da familiaridade, demonstrámos a sua consistência e validade. Além disso demonstramos que este é moderado pela duração objectiva dos estímulos suportando processos de interferência exógena na atenção seletiva à informação temporal. No entanto o efeito não parece ser moderado por tarefas concorrentes. Dados de um segundo estudo experimental oferecem porém evidencias de efeitos de distribuição de recursos cognitivos com um papel no processo associado ao efeito de familiaridade. Isto dado o papel que a sensibilidade ou discriminação temporal exerce sobre o efeito (apenas previsto pelos modelos de relógio-interno para alterações associadas à distribuição de recursos atencionais). Adicionalmente, os dados do estudo meta-analítico sugerem que os efeitos da familiaridade ocorrem quando a informação temporal é mais difícil de discriminar, o que está concordante com o uso metacognitivo da experiência de fluência para desambiguar a informação do julgamento corrente. Num terceiro estudo, corroborámos a hipótese-atribucional para o efeito de familiaridade nos julgamentos de duração ao demonstrar que este é mediado pela atividade dinâmica do músculo zigomático major associado a afetos positivos próprios da experiência de fluência. Neste estudo os indicadores atencionais (i.e., atividade do corrugador superciliar e da frequência cardíaca) não parecem estar associados à emergência do efeito. Adicionalmente, testamos a hipótese do efeito de familiaridade poder ser explicado por modelos puros de fluência perceptiva. Para o efeito contrastámos meta-analiticamente efeitos de familiaridade, que agrega componentes de fluência perceptiva e conceptual, com manipulações puramente perceptivas. Como esperado o efeito é replicado com as manipulações de fluência perceptiva. No entanto, constatámos que outros indicadores derivados dos pressupostos dos modelos de fluência, nomeadamente, efeitos de discrepância e de correção da atribuição, se verificaram apenas para a fluência perceptiva, sugerindo que os efeitos de familiaridade não se resumem a efeitos de fluência. Tomados em conjunto estes dados sustentam que o efeito de familiaridade emerge por uma convergência de processos que ocorrem através de múltiplas vias. Apontamos portanto para a necessidade de uma complementaridade dos modelos na compreensão dos processos subjacentes ao efeito dafamiliaridade.
- Feelings as direct information of our action capabilitiesPublication . Rosa, Cristina Fonseca; Garcia-Marques, TeresaA percepção destinada a guiar a ação é um processo ativo e contínuo em que os atores ressoam suas características corporais para medir constantemente as relevantes propriedades físicas do meio ambiente. Ao invés de serem guiadas por nossas crenças, nossas ações são guiadas por affordances. Ou seja, as oportunidades de ação que emergem do sistema atorambiente e que são limitadas pelas nossas capacidades de ação - os limites dinâmicos do nosso corpo que estão intrinsecamente relacionados aos estados morfológicos, fisiológicos e psicológicos do corpo. Aqui analisamos as evidências que demonstram que somos sensíveis e que acessamos informações sobre nossos limites de ação para antecipar ou realizar ações reais. Nosso objetivo é entender como os atores são informados sobre seus próprios limites de ação quando uma oportunidade de ação emerge. Por exemplo, como os atores que rastreiam visualmente uma bola a reduzir o tamanho são informados de que o tamanho da bola se encaixa (ou não) nas mãos quando estimando a agarrabilidade da bola? Nesta tese abordamos diretamente a hipótese de que os sentimentos que surgem como parte de qualquer processo cognitivo são integrados como informações não-visuais sobre nossos limites de ação. Assumindo a perspectiva da incorporação (a integração da informação sensório-motora como moldando e integrando a cognição), combinamos dois quadros teóricos distintos e relevantes para investigar nossa hipótese: a teoria das affordances (Gibson, 1979) e a abordagem do sentimento-como-informação para o julgamento e tomada de decisão (Clore, 1992; Schwarz & Clore, 1983). A primeira teoria torna claro como as capacidades de ação estão intrínsecamente relacionadas à nossa percepção do entorno em termos de possibilidades de ação. A segunda abordagem mostra como sentimentos positivos e negativos informam o processamento em termos de custos e benefícios quando na interação com o contexto. Em três artigos, testamos se os sentimentos informam nossas capacidades de ação. No primeiro artigo, examinamos se os casos anedóticos que sugerem a decisão dos atletas com base em sentimentos apresetam suporte fenomenológico. Em um estudo de campo que aplicou o método correlacional, encontramos evidências de que peritos jogadores de futsal se reconhecem como confiando em sentimentos em contraposição à experiência de pensamento deliberativo, principalmente em situações de jogo categorizadas por eles como imprevisíveis, complexas e dinâmicas. No segundo trabalho, iniciamos nossa série de investigações de laboratório, primeiro rastreando a atividade muscular do corrugador e do zigomático (índice de experiência afetiva negativa e positiva) numa configuração de capacidade de ação. Os resultados indicam que uma experiência de negatividade parece ser subjacente às estimativas baseadas em ações, uma vez que o músculo corrugador é ativado somente quando os atores precisam realizar acoplamento perceptual-motor para eventos dinâmicos, mas não quando eles apenas apreendem os mesmos eventos. Em adição, uma manipulação subliminar de primação afetiva indica que esse resultado não se deve apenas ao processo atencional. No terceiro artigo, replicamos a manipulação afetiva e, mais uma vez, descobrimos que ela promove mudanças confiáveis nos limites de ação percebidos pelos participantes. Isso ocorreu especialmente quando restringimos o tempo e os movimentos do corpo. Juntos, esses achados sugerem que os sentimentos têm um papel nas estimativas baseadas em ações e em nossos limites de ação percebidos. Estes dados estendem a abordagem do sentimento-como-informação aos julgamentos que acoplam percepção-ação. Estudos futuros devem esclarecer melhor a natureza desse papel.
- Funcionalidade afectiva do pensamento contrafactual descendente : Acontecimentos negativos e variáveis de natureza pessoalPublication . Neto, Sofia Moita; Senos, JorgeO pensamento contrafactual é um processo cognitivo comum e universal, que todos encetamos no nosso dia-a-dia, e que consiste na tendência para considerar como resultados alternativos à realidade que, de facto, aconteceu, poderiam ter ocorrido se apenas algum dos elementos que precederam um dado desfecho - especialmente quando esse desfecho é negativo - tivesse sido diferente, se tivéssemos feito mais alguma coisa, ou, alternativamente, se não tivéssemos feito algo. Assume-se que é um processo funcional, que cumpre essencialmente duas funções: reparar o afecto negativo resultante de situações indesejadas e sugerir cursos de acção que possam evitar semelhantes desfechos, cumprindo assim funções quer de prevenção, quer de controlo da realidade. Uma primeira abordagem teórica partiu do princípio que estas funções seriam desempenhadas, a primeira por contrafactuais descendentes (formas como a situação poderia ter corrido pior) e a segunda por contrafactuais ascendentes (formas como a situação poderia ter corrido melhor). No entanto, resultados posteriores vieram a mostrar que focarmo-nos em como a situação poderia ter tido um desfecho mais trágico também pode amplificar o afecto negativo, e imaginarmos um melhor desenlace também pode conduzir a afecto positivo. Assim, o enquadramento teórico inicial tomava em linha de conta apenas efeitos de contraste, mas a evidência encontrada indica que ao pensamento contrafactual também podem estar associados efeitos de assimilação afectiva. Várias linhas de evidência indicam que acontecimentos negativos são o principal factor de activação da contrafactualidade, sendo que, por vezes, esta contribui não para um reequilibrar do afecto mas para um exacerbar do afecto negativo com um carácter disfuncional. Esta investigação procura determinar se acontecimentos com diferentes graus de gravidade influenciam os efeitos de contraste e assimilação afectiva, e averiguar se características de natureza pessoal influenciam essa relação e/ou podem ser, elas próprias, por si só, factores determinantes desses efeitos. Para tal, recorreu-se a inovadoras metodologias, baseadas na apresentação de contrafactuais previamente elaborados, por um lado, e na construção de novas opções de medida, por outro. Os resultados indicam que a funcionalidade da contrafactualidade descendente em termos de reposição do afecto se encontra muito ligada à magnitude de gravidade da situação original, seguindo uma distribuição curvilínea em que a mitigação do afecto negativo é negligenciável quando o acontecimento se caracteriza por marcada gravidade, cresce à medida que essa gravidade diminui reflectindo um maior contraste afectivo e volta a diminuir, tornando-se em assimilação afectiva quando a situação que a activou se encontra no limiar da positividade. Isto é, o pensamento contrafactual descendente parece desempenhar melhor a sua função de reparação afectiva em situações de negatividade moderada, mas em casos extremos, em que os acontecimentos sobre os quais os contrafactuais versam são ou muito negativos ou já positivos, essa função de compensação afectiva deixa de se cumprir. Diferentes níveis de assimilação e contraste foram também claramente encontrados para diferenciados graus de depressão e auto-estima, bem como, mais moderadamente, a nível do locus de controlo. A conclusão a tirar é que o pensamento contrafactual é funcional sim, mas nem sempre e não para todos da mesma maneira.
- Modulação de condicionais e modelos mentaisPublication . Juhos, Csongor; Quelhas, Ana CristinaCom o presente programa de investigação intentamos contribuir para o debate teórico que se tem instalado em redor do raciocínio com afirmações condicionais na forma ‘se , então q’. Apesar de o raciocínio a partir de afirmações condicionais, ou simplesmente de condicionais, parecer intuitivo e fazer parte do nosso quotidiano desde tenra idade, a sua explicação sistemática provou ser um complexo desafio teórico. As origens do estudo do raciocínio condicional enraízam-se na lógica proposicional. Nesta disciplina, a relação entre duas proposições, ‘p’ e ‘q’ expressa pela forma ‘se…, então…’, corresponde invariavelmente à implicação material (Prior, 1990). Devido à manifesta inflexibilidade deste sistema interpretativo, a abordagem oferecida pela lógica mostra-se insuficiente para dar conta da pluralidade dos significados que o ‘se’ assume na linguagem natural. A dificuldade de lidar com a natureza camaleónica das condicionais do quotidiano não é exclusiva da lógica proposicional. Após aproximadamente meio século de investigação psicológica, um dos poucos consensos que existem na literatura do raciocínio condicional é a ideia de que se trata de um assunto controverso. O estado de arte é marcado pela proliferação de explicações teóricas destinadas a capturar o sentido do conectivo condicional (e.g., Braine & O'Brien, 1998; Cheng & Holyoak, 1985; Cosmides, 1989; Evans, 2007; Evans, Handley, & Over, 2003; Johnson-Laird, 2008c; Johnson-Laird & Byrne, 2002; Rips, 1983). Entre as diversas abordagens destaca-se a extensão da teoria dos modelos mentais às condicionais. A principal vantagem desta abordagem consiste em ser incorporada numa teoria que se aplica a uma vasta diversidade de tipos de raciocínio. A teoria, com base num número restrito de princípio psicológicos, oferece uma explicação da competência dedutiva, dos desvios do quadro normativo da lógica e da influência de factores semânticos e pragmáticos sobre o raciocínio com condicionais (Johnson-Laird, 2006, 2008c; Johnson-Laird & Byrne, 1991, 2002; Johnson-Laird, Byrne, & Schaeken, 1992). Johnson-Laird e Byrne (2002; Johnson-Laird, 2006, 2008) resolvem a problemática das condicionais propondo uma interacção entre um significado nuclear abstracto subjacente à forma condicional e um mecanismo de modulação que, em função do significado das orações, das suas ligações co-referenciais e em função dos conhecimentos activados, pode transformar o significado nuclear num número indefinido de interpretações diferentes. Esta hipótese sobre a componente interpretativa do raciocínio, que a partir daqui será referida como a hipótese de modulação, até à data não foi devidamente avaliada em termos empíricos. Com o presente programa de investigação pretendemos colmatar esta lacuna. Adicionalmente, estendemos a hipótese de modulação à componente inferencial do raciocínio e examinamos as suas implicações sobre o raciocínio com afirmações condicionais indicativas e deônticas. O nosso objectivo final era traçar um quadro explicativo com suporte empírico sólido que contribuísse para a resolução do enigma das condicionais quer ao nível interpretativo, quer ao nível inferencial. À luz deste objectivo realizámos um programa de investigação composto por quatro experiências. Os resultados destas experiências demonstram que (1) o significado das orações de condicionais indicativas e deônticas modula a forma como as pessoas interpretam a relação condicional entre elas; (2) os conhecimentos sobre o tipo de conteúdo de condicionais (factual, deôntico) modula a representação mental subjacente à interpretação da relação condicional; (3) a modulação semântica do significado e a modulação pragmática dos conhecimentos sobre o tipo do conteúdo têm um impacto poderoso e previsível sobre o desempenho inferencial com condicionais, quer em situações em que as inferências são realizadas em tempo ilimitado, quer em situações em que o tempo disponível é limitado. A integração dos resultados corrobora a ideia de que as pessoas ao compreenderem uma relação condicional pensam sobre um conjunto de possibilidades. A composição deste conjunto depende do significado das orações e a sua representação mental é influenciada pelos conhecimentos sobre o tipo do conteúdo. Estas evidências corroboram a hipótese de modulação proposta no âmbito da teoria dos modelos mentais e, juntamente com os resultados nas tarefas, permitem avançar com refinamentos da actual teoria dos modelos mentais.
- Pensamento contrafactual e raciocínio causal: Efeito de facilitação recíproca e modelo de integraçãoPublication . Senos, Jorge; Garcia-Marques, TeresaA ideia central das teorias contrafactuais de causalidade consiste no argumento de acordo com o qual afirmações do tipo “o antecedente C causou o resultado E” podem ser explicadas em termos contrafactuais condicionais do tipo “se C não tivesse ocorrido, E não teria acontecido”. Esta linha de pensamento, com raízes na definição de causalidade proposta por David Hume (1748/1910) é central à análise de causalidade contida na teoria proposta por David Lewis (1973), à qual os desenvolvimentos da psicologia nesta área muito devem. Menos preocupada acerca do que é uma causa, do que como é que as pessoas inferem causalidade, a psicologia adoptou, com base no conceito de simulação mental de mundos alternativos, uma perspectiva contrafactual da causalidade, sublinhando que o pensamento contrafactual influencia de duas formas a produção de conclusões causais acerca dos acontecimentos (e.g. Kahneman & Miller, 1986) e das pessoas (e.g. Lipe, 1991). A primeira fonte de informação resulta de a reversão contrafactual dos acontecimentos indicar o candidato causal desses acontecimentos. Quando dizemos que “se tivesse conduzido com menos velocidade o acidente teria sido evitado”, revertendo mentalmente este acontecimento através da X remoção contrafactual do excesso de velocidade, indicamos que a causa desse acidente foi o excesso de velocidade. Uma segunda fonte de informação para a conclusão causal, resulta de o pensamento contrafactual se constituir como um teste de verdade causal. Se a remoção contrafactual de um antecedente não for capaz de reverter um acontecimento, estamos na presença de uma co-ocorrência e não de uma relação causal. Pelo contrário, se a remoção contrafactual de um antecedente se mostrar eficaz na remoção do acontecimento, então a relação estabelecida entre o antecedente e o acontecimento, é de natureza causal. Esta linha teórica encontrou, na psicologia, suporte experimental através dos estudos de Wells e Gavanski (1989), ao demonstrarem experimentalmente que as pessoas consideram mais causal o antecedente que mudam contrafactualmente no sentido de reverter os acontecimentos, revelando uma convergência de enfoque entre o pensamento contrafactual e a explicação causal sobre um mesmo antecedente. Adicionalmente, Roese & Olson (1997), usando um paradigma experimental de facilitação, demonstraram que a realização de uma tarefa contrafactual facilita a posterior inferência causal, reduzindo significativamente os tempos de latência necessários à conclusão causal. Todavia, esta posição teórica, apoiada nos resultados encontrados experimentalmente, não ficou isenta de controvérsia, tendo sido desafiada pelos resultados experimentais que demonstram a existência de dissociação de enfoque entre os dois processos. N’Gbala e Branscombe (1995) encontraram evidência experimental de que o pensamento contrafactual se centra em condições necessárias para a ocorrência dos acontecimentos, enquanto a causalidade se centra em antecedentes suficientes. Por XI seu lado, Mandel e Lehman (1996) vieram demonstrar que o pensamento contrafactual se centra em antecedentes controláveis, enquanto a explicação causal se centra em antecedentes que covariam com o resultado. Adicionalmente, N’Gbala e Branscombe (2003) argumentando que o pensamento contrafactual requer a existência de conhecimento causal prévio ao pensamento contrafactual, estabeleceram uma inversão da noção de dependência entre os dois processos, suportada por resultados experimentais que demonstram que a realização prévia de tarefas causais facilita a realização posterior de tarefas contrafactuais, mas não o contrário. Estas inconsistências experimentais são explicadas com recurso a diferentes posições teóricas que defendem dependência contrafactual da causalidade, num caso, e dependência causal do pensamento contrafactual, no outro. O presente trabalho, situa-se no quadro deste conflito teórico e empírico sobre a natureza da relação estabelecida entre o pensamento contrafactual e o raciocínio causal. Ao longo de um programa de investigação contendo seis experiências, foi produzida evidência empírica que permite concluir que: a) o pensamento contrafactual e o raciocínio causal se encontram igualmente acessíveis, desafiando o conceito de precedência de uma tarefa sobre a outra com base no conceito de diferente nível de complexidade; b) a realização prévia de uma tarefa facilita a realização posterior da outra, com igual magnitude, estabelecendo um efeito de facilitação simétrica, contrariando assim anterior evidência experimental que sustenta efeitos de facilitação XII assimétrica de um processo sobre o outro, mas não o inverso; c) o enfoque produzido pelos dois processos sobre os antecedentes dos acontecimentos não qualifica este efeito c) ambos os processos requerem e ancoram num mesmo contexto causal mas não um no outro. A integração geral dos resultados é feita com recurso à proposta de um modelo de integração entre o pensamento contrafactual e a inferência causal que, explicando o padrão de resultados encontrados, permite igualmente harmonizar diferentes perspectivas teóricas.
- Racionalidade quebrada: A racionalidade ecológica das heurísticas rápidas e frugaisPublication . Oliveira, José Miguel Pereira de; Morgado, Luísa de Almeida; Gigerenzer, GerdInexistente
- Raisonnement conditionnel: Modeles mentaux et schemas pragmatiquesPublication . Quelhas, Ana Cristina; Gilly, Michel
- The contextual nature of conditional reasoningPublication . Byrne, Ruth M. J.; McDonald, NickIn this thesis, it is proposed that the products of human rea-soning- are a function of the context in which that reasoning occurs. Consequently, the effects of two kinds of contexts are addressed, in two series of experiments. In the first series, the environmental context, in which conditional reasoning is embedded, was explored. In Experiment 1 subjects were given conditional arguments, accompanied by contextual information consisting of a second conditional. The antecedent in the second conditional was either an alternative condition or an additional condition. It was found that alternative conditions suppress the inferences traditionally considered fallacious, while additional conditions suppress the inferences sanctioned as logically valid. It was also found that when these alternative or additional conditions are conjoined or disjoined In the minor premises that accompany the con¬ditional arguments, this suppression no longer occurs, In Experiment 2, groups of subjects were again given conditional arguments that were either accompanied by extra contextual information or not. Further groups were given conditional arguments that were prefaced either by Information about the relevance of contextual Information, or by tasks requiring the retrieval of contextual Information. It was found that neither recognizing the relevance of contextual Information nor retrieving that Information in isolation, is enough to suppress the inferences. It was found once more, that contextual Information, which embodies both of these features, suppresses the inferences, replicating the primary results of Experiment 1. In Experiment 3, groups of subjects were given conditional inducements. One group received inducements unaccompanied by any contextual Information. Other groups received them accompanied by information about the situation in which the utterance was made, or by information about the duration of the utterance (either that it was long or short), or accompanied by information about both the situation and the duration. It was found that information about both the situation and that it was a long duration suppresses the invalid inferences, while information about the situation and that it was a short duration suppresses the valid inferences. Neither situational information, which was hypothesized to enable the retrieval of relevant information, nor durational information, which was hypothesized to enable the recognition of the relevance of other information, were singly sufficient to suppress the inferences. A model of inference-testing, based on the conjoined operation of the processes of recognizing the relevance of other information and retrieving specific instances of the relevant information, is described. A second way that the context in which conditional reasoning is embedded can affect reasoning was investigated, In Experiment 4, the frequency of inferences made from sequences of conditional premises was compared to the frequency of inferences made from those premises in isolation from each other. Subjects were given conditional prem¬ises of different forms. It was found that fewer inferences are made on sequences of premises than from those premises in isolation from each other, for certain forms of premises. In Experiment 5, two features, identified as potentially responsible for this, were manipulated. Some subjects received the sequences of conditional premises as before, while others received the premises in isolation, again as before, both of the form for which differences were observed in Experiment 4. Other subjects received arguments constructed to ensure that either the joint presentation of the premises was preserved, or that the uncertainty of using an intermediate conclusion as a minor premise from which to make an inference was preserved, to establish the respective roles of these factors. It was found that the source of differences in the frequency of inferences between sequences of premises and those prem¬ises in isolation can be attributed to the joint representation of the premise information. Experiment 6 determined the role of some of the features of the form of argument for which differences were observed. Groups of sub¬jects were presented with two different forms of sequences of premise, and comparable premises in isolation. One of these new forms possessed one of the features, that of a negative in the first condi¬tional, while the second sequence possessed two of the features that of a negative in the first conditional with that negative located at the consequent of the conditional. Neither possessed the third feature, of the atransitivity of the argument. It was found that neither of these sequences of premises differed from comparable premises in isolation, in the frequency of inferences made. This indicates that all three features are responsible for the joint representation of arguments of certain sequences leading to fewer inferences. A model is proposed that shows how the representation of sequences of premises differs from the representation of premises in isolation. Finally, the implications of the effects of context on conditional reasoning found in these experiments, for the four theories of reasoning described in the introductory review, and for cognitive psychology in general, are explored in the final chapter.