PCLI - Tese de doutoramento
Permanent URI for this collection
Browse
Recent Submissions
- Fatores psicológicos e familiares nos comportamentos autolesivos dos adolescentes: Da compreensão à intervenção em contexto escolarPublication . Candeias, Maria de Jesus Canelas; Pereira, Maria GouveiaOs comportamentos autolesivos são um grave problema de saúde pública, especialmente entre adolescentes e jovens adultos, necessitando de intervenções preventivas eficazes. Estes comportamentos são influenciados por variáveis sociodemográficas, individuais e relacionais, sendo fundamental compreender melhor o papel dessas variáveis na promoção deste comportamento e desenvolver programas preventivos, particularmente em contextos escolares. Esta tese analisou como é que variáveis sociodemográficas (sexo e idade), individuais (perturbação de personalidade borderline, impulsividade e ideação suicida) e relacionais (funcionamento familiar) contribuem para os comportamentos autolesivos, bem como explora os mecanismos que ligam o funcionamento familiar a estes comportamentos. Para além disso, foi desenvolvido e avaliado um programa de intervenção escolar para adolescentes, professores e auxiliares educativos, com o objetivo de reduzir a prevalência de comportamentos autolesivos. O primeiro estudo validou a versão original da escala Borderline Personality Features Scale for Children para adolescentes, resultando na versão BPFSC-12, composta por 12 itens organizados em quatro fatores de primeira ordem (Instabilidade Afetiva, Problemas de Identidade, Relacionamentos Negativos e Autoagressão) e um fator de segunda ordem, "Características de Personalidade Borderline". Esta versão revelou-se uma medida válida e fiável para a deteção precoce de perturbação de personalidade borderline em adolescentes. O segundo estudo explorou, a contribuição de variáveis sociodemográficas, relacionais e individuais para os comportamentos autolesivos. Observou-se que o género e a idade são preditores significativos, com as raparigas apresentando maior risco. No entanto, fatores intrapessoais, como a perturbação de personalidade borderline e a ideação suicida, mostraram um impacto mais forte na predisposição para estes comportamentos do que o funcionamento familiar. O terceiro estudo investigou se a perturbação de personalidade borderline e a ideação suicida atuam como mediadores entre o funcionamento familiar e os comportamentos autolesivos. Verificou-se que ambos desempenham papéis mediadores significativos, com a ideação suicida como mediador total e a perturbação de personalidade borderline como mediador parcial. A mediação em série indicou que a relação entre o funcionamento familiar e os comportamentos autolesivos é totalmente mediada pela perturbação da personalidade borderline e pela ideação suicida. No âmbito das intervenções, o programa “Healthy Minds” foi desenvolvido para prevenir comportamentos autolesivos em adolescentes em contexto escolar. O programa mostrou-se eficaz na redução das taxas destes comportamentos, na correção de crenças erradas, e na promoção da procura de ajuda profissional, embora sem impacto significativo no reconhecimento de sinais de alerta e na ideação suicida. Adicionalmente, foi implementado um programa de formação para professores e auxiliares educativos, capacitando-os para identificar e intervir em casos de comportamentos autolesivos. A intervenção mostrou-se eficaz na redução de falsas crenças, no aumento da capacidade de reconhecer sinais de alerta e na promoção de atitudes mais adaptativas em relação a estes comportamentos. Em conclusão, esta tese contribui para a compreensão dos comportamentos autolesivos, destacando a importância de considerar tanto variáveis intrapessoais (como a perturbação de personalidade borderline e a ideação suicida) quanto relacionais (como o funcionamento familiar). Reforça a necessidade de estratégias preventivas contínuas e integradas para reduzir a prevalência destes comportamentos e promover o bem-estar dos adolescentes, sublinhando a importância de programas eficazes em contexto escolar.
- Envelhecimento e ajustamento psicossocial de pessoas heterossexuais, homossexuais e bissexuais no contexto português: estigma, saúde e resiliênciaPublication . Gonçalves, José Alberto Ribeiro; Leal, Isabel; Costa, Pedro Alexandre Nunes daO envelhecimento demográfico destaca-se como uma realidade cada vez mais acentuada e com implicações multifatoriais na vida diária das populações. Em particular, o ajustamento psicossocial tem um papel proeminente no processo de envelhecimento ativo e saudável. Contudo, as pessoas seniores Lésbicas, Gays e Bissexuais (LGB) têm desafios psicossociais e de saúde extraordinários aos apresentados às restantes pessoas seniores. Este trabalho teve como principal objetivo avaliar o processo de ajustamento psicossocial das pessoas seniores LGB e o seu impacto em diversos indicadores de saúde mental e bem-estar. Desenvolveu-se um estudo com uma abordagem metodológica mista e transversal, com duas amostras independentes, 648 seniores cisgénero – 368 heterossexuais e 280 LGB - participaram na fase quantitativa através de questionários online e 23 seniores gays e bissexuais participaram na fase qualitativa através de entrevistas individuais. Como outputs principais obtiveram-se um capítulo teórico (capítulo 2) e seis empíricos (capítulos 3-8). Os principais resultados destacam: (1) uma relação negativa e direta entre estigma sexual e os indicadores de saúde mental das pessoas seniores LGB; (2) a existência de duplo estigma (sexual e etário) entre seniores LGB portugueses e a sua importante relação com piores estados de saúde; (3) o duplo impacto negativo da solidão e do idadismo na saúde mental das pessoas seniores heterossexuais e o destacado papel mediador da resiliência nessa relação; (4) a existência de efeitos negativos dos fatores de stress psicossocial na saúde mental das pessoas seniores LGB e heterossexuais para além dos efeitos dos fatores protetores psicossociais; (5) piores níveis nos fatores stressores em seniores LGB e, simultaneamente, melhores níveis nos fatores protetores em seniores heterossexuais; (6) a construção da identidade sexual em seniores LGB portugueses marcada por um contexto psicossocial particularmente violento e estigmatizante; (7) a influencia saliente do contexto psicossocial e da construção identitária na vivência das relações amorosas mais prejudicadas nas pessoas seniores LGB; e (8) a capacidade de ajustamento psicossocial e obtenção de bem-estar em seniores LGB em situações de risco extraordinário (contexto de COVID-19). Estes resultados destacam os efeitos deletérios que o stress minoritário pode ter na saúde, no bem-estar e no ajustamento psicossocial das pessoas seniores LGB, adquirindo um efeito cumulativo de estigmatização ao longo do ciclo de vida e com uma natureza multifatorial – nomeadamente histórica, social, relacional e pessoal. Efeitos estes que refletem-se também em baixos níveis de fatores protetores e elevados níveis de fatores stressores em comparação com seniores heterossexuais. Contudo, revelam também a capacidade excecional de resiliência nas pessoas seniores LGB perante a adversidade ao longo da vida que, apesar de alguns custos psicossociais e de saúde, conseguiram desenvolver competências de gestão de estigma e promoção de bem-estar. Este estudo salienta a importância de futuras intervenções psicossociais e comunitárias que foquem o contexto social comum como um dos fatores de promoção de segurança e envelhecimento saudável em seniores LGB.
- Foi assim que aconteceu: A nossa família - as trajetórias resilientes das famílias constituídas por procriação medicamente assistida ou inseminação por dador face aos desafios inerentes à sua transição para a ParentalidadePublication . Carneiro, Francis Anne Teplitzky; Leal, Isabel Maria PereiraComo consequência de profundas mudanças socio-legais, demográficas e tecnocientíficas têm surgido as novas famílias (formadas através de PMA, constituídas por casais do mesmo género e constituídas por mães solteiras por escolha). Por serem configurações familiares que se afastam da estrutura tradicional nuclear, várias questões têm surgido relativamente às suas implicações para o ajustamento psicológico das crianças. Também muito pouco se sabe ainda sobre os constrangimentos e recursos específicos destas famílias durante a sua transição para a parentalidade, nomeadamente sobre o seu funcionamento familiar. Neste sentido foi desenvolvido um estudo transversal multi-métodos, inserido numa matriz clínicodesenvolvimental, denominado A NOSSA FAMÍLIA: FOI ASSIM QUE ACONTECEU. Este pretendeu avaliar o funcionamento familiar e os processos familiares das novas famílias ao nível da parentalidade e do ajustamento infantil. Os resultados principais revelaram que as crianças das novas famílias apresentam um ajustamento psicológico positivo comparativamente aos dados normativos de crianças da mesma faixa etária e aos dados das crianças de outras famílias, tais como a nuclear tradicional. Os resultados revelaram também que as novas famílias constituídas através de PMA ou inseminação por dador experienciam um Distressful Loop, composto por três fases, e que se repetiu durante meses ou anos até as famílias concretizarem a parentalidade. A primeira fase deste Loop representa o momento em que pais/mães aguardam ansiosamente pelos resultados médicos. A segunda fase representa as tentativas de PMA falhadas ou a perda gestacional e os consequentes sentimentos de desilusão, humor depressivo e luto. A terceira fase representa a recuperação psicológica e o reajuste das famílias face às consequências negativas das tentativas de PMA falhadas ou perdas gestacionais, até à sua decisão final de realizarem outra tentativa de PMA e entrarem novamente no Loop. Não obstante, as famílias apresentaram também importantes características e recursos durante todo o seu processo de PMA que as permitiram amenizar o impacto negativo do Distressful Loop e dos stressores associados à PMA, nomeadamente, otimismo e positividade, tenacidade e perseverança, fé e espiritualidade, comunicação, sincronização e coesão do casal e suporte social. Verificou-se também que as famílias constituídas por mães lésbicas/bissexuais navegaram por diferentes contextos legais durante a sua transição para a maternidade e consequentemente enfrentaram desafios e stressores diferentes, embora todas tem sentido a ausência de representação mental e social desta maternidade, inclusivamente nas suas famílias de origem. Não obstante, estas mães demonstraram ser capazes de transformar o impacto negativo dos stressores mencionados através de várias formas, tais como o aumento e manutenção da visibilidade da sua identidade minoritária e da sua família, participação no ativismo pelos direitos LGBTQ+, procura de suporte da comunidade LGBTQ+, ou pela revelação seletiva da sua família. Foram também muito ativas e persistentes na recuperação de conexões e suporte com os membros das suas famílias de origem. Este estudo destaca a importância de serem desenvolvidas intervenções psicoterapêuticas que tenham em conta as vicissitudes mencionadas relativamente às novas famílias, incluindo as suas vulnerabilidades e acentuado as suas forças e estratégias para que possam navegar pelas várias trajetórias da parentalidade de forma resiliente e saudável.
- A representação e desconstrução do duplo padrão sexualPublication . Almeida, Ricardo Alvim da Costa Marques de; Carvalheira, Ana AlexandraO duplo padrão sexual é o conceito que dita que comportamentos sexuais são desejáveis para homens e mulheres (Crawford & Popp, 2002). É tipicamente restritivo da sexualidade feminina e promotor da masculina. Quem não adere a estas normas é julgado negativamente e tem dificuldade de se integrar. No entanto, a sexualidade é universal. Como tal, o duplo padrão sexual enquanto conceito afeta virtualmente todos os indivíduos. A investigação mostra que existe uma tendência na qual o duplo padrão sexual tem vindo a desaparecer e até a inverter-se. Uma tendência em que as mulheres demonstram comportamentos sexuais tão ou mais permissivos que os dos homens. No entanto, há duas décadas que existem incongruências na investigação científica, onde por vezes é possível observar um duplo padrão sexual tradicional, outras onde não é possível observar nenhuma adesão ou até um duplo padrão sexual inverso. Os estudos que se destacaram na investigação, conseguiram obter resultados onde existe de facto um duplo padrão sexual, através da procura da eliminação da desejabilidade social. Como tal, esta tese tem como objetivo compreender se o duplo padrão está presente numa população de jovens adultos e se está, qual é a sua representação. Para tal, foi utilizado um teste de associação implícita de duplo padrão sexual, que mede a força de associações automáticas entre conceitos, eliminando a desejabilidade social. Em conjunção foram utilizadas escalas de autorelato de duplo padrão sexual e sociosexualidade. Finalmente, foi realizado um estudo qualitativo, com base nos conceitos da investigação implícita do duplo padrão sexual. Os três estudos nesta tese complementaram-se para concluir que, o duplo padrão sexual está presente em jovens adultos portugueses, mas não na sua forma habitual. Existem crenças automáticas, baseadas num duplo padrão sexual tradicional, mas com um auto-conhecimento e consciência das pessoas de que estão possivelmente condicionadas por estas crenças. Contudo, as pessoas estão cientes que aderem a um duplo padrão sexual e contrariam-no ativamente, por reconhecerem que é prejudicial e por não se identificarem com tais crenças. Os resultados sugerem que as crenças implícitas são um fator muito importante na investigação do duplo padrão sexual
- Journeys in meaning : Psychological adjustment to trauma in resettled syrian refugeesPublication . Matos, Lisa Marta Machado de; Leal, Isabel Pereira; Park, Crystal L.; Indart, Monica J.The ability to make meaning of extreme events is a key determinant of psychological adjustment to trauma. Guided by Park’s (2010) integrated meaning-making model, the principal aim of this dissertation was to investigate the meaning-making experiences of resettled Syrian refugees and the impact of those experiences on posttraumatic adjustment. To this end, we conducted a mixed-methods cross-sectional study, with two phases of data collection and two independent samples. A total of 44 Syrian war-exposed adults living in urban communities across continental Portugal participated in Phase 1 Focus Groups (n = 2; 5 participants) and Phase 2 individual interviews (n = 39). Empirical results are described in Chapters 3 to 7. Key results identified: (1) exposure to significant meaning-shattering events pre-, during, and post-flight; (2) the centrality of pre-war global meanings related to identity, justice, control, God, expectations of normality, intact family and country, and peace to appraise the war and forced displacement; (3) situational appraisals as both intra- and interpersonal processes subject to revisiting with new trauma, new information, time, and context; (4) cognitive-specific, as well as immediate and gradual meaning violations; (5) determinants of search for meaning including cumulative stressors, availability of cognitive resources, stage of displacement, social support, coping strategies, and developmental age; (6) negative, positive, ambivalent, and unresolved meanings-made of trauma; and (7) psychological adjustment to refugee trauma as a continuum of responses, from distress to perceptions of growth. Findings suggest that meaning-making of refugee trauma entails a set of concurrent, dynamic, cognitive-specific trajectories that are informed by place and sociopolitical context, and thus prone to be repeatedly revisited. Findings further challenge the concept of successful psychological adjustment to trauma as an end-state. This work highlights the need to promote adaptive meaning-making as an integrated experience that prioritizes repairing the meanings most severely challenged by war, including sense of justice, belonging, control, as well as the possibility of a peaceful and safe future.
- The psychotherapist´s persuasiveness in anxiety disorders: scale development and relation to the working alliancePublication . Afonseca, Margarida Nunes dos Santos de; Sousa, Daniel Cunha Monteiro deA persuasão do psicoterapeuta é proposta como um determinante dos resultados da psicoterapia, que promove as expectativas, autoeficácia e envolvimento do cliente, e ajuda a estabelecer a aliança terapêutica. No entanto, permanece uma das capacidades interpessoais do psicoterapeuta menos investigada, sem uma escala validada. Objectivos: O presente estudo observacional e correlacional desenvolveu uma escala de avaliação da persuasão do psicoterapeuta e examinou a relação entre a persuasão do psicoterapeuta e a aliança terapêutica. Método: Com base numa revisão da literatura sobre a persuasão do psicoterapeuta, a Therapist’s Persuasiveness Rating Scale (TPRS) foi desenvolvida. Dezessete gravações de sessões de psicoterapia foram utilizadas na validação da escala mediante análise fatorial exploratória e confirmatória, e avaliação da validade, confiabilidade e sensibilidade. Catorze gravações de sessões de psicoterapia com clientes com ansiedade foram cotadas com a TPRS e o Working Alliance Inventory-Observer Version-Short Form (WAI-O-S) para examinar a relação das variáveis. Resultados: Do processo de validação resultou uma escala com 4 subescalas e 10 itens. Exceptuando a validade discriminante, que se revelou inadequada, a TPRS mostrou-se uma escala válida, confiável e sensível da persuasão do psicoterapeuta. Apesar da correlação não significativa encontrada na correlação de Spearman, o modelo de regressão linear sugere que a persuasão do psicoterapeuta explica 65.1% da aliança terapêutica no início da sessão Conclusão: A TPRS revelou boas qualidades psicométricas, sendo uma escala promissora para avançar o estudo da persuasão do psicoterapeuta. Existe uma sugestão do efeito da persuasão do psicoterapeuta na aliança terapêutica, mas o resultado não detectou significância estatística.
- Therapist´s facilitative interpersonal skills and persuasiveness in psychotherapyPublication . Vaz, Alexandre Magalhães; Sousa, Daniel Cunha Monteiro deA evidência empírica demonstra uma associação robusta entre as competências interpessoais do psicoterapeuta e os seus resultados clínicos. No entanto, existe um foco predominante no estudo de algumas competências interpessoais (por exemplo, empatia) em detrimento de outras. Especificamente, existe uma falta de contributos teóricos e científicos focados na persuasão do psicoterapeuta, uma competência interpessoal que engloba os comportamentos verbais e não-verbais do terapeuta que influenciam as expectativas e credibilidade do cliente quanto à intervenção psicológica. Os estudos aqui apresentados visam aumentar a base de conhecimento teórico e empírico para as competências interpessoais do terapeuta no geral, e para a persuasão terapêutica em particular. No primeiro estudo, revemos os principais contributos teóricos e literatura empírica sobre a persuasão do psicoterapeuta. Com base na investigação disponível, apresentamos um consenso sobre os principais comportamentos verbais e não-verbais do terapeuta que parecem influenciar as expectativas e credibilidade do cliente em relação à psicoterapia. Este estudo sugere que o fornecer de racionais clínicos dentro de sessão, tanto para a origem dos problemas do cliente como para a sua solução, é a tarefa persuasiva mais relevante no qual os terapeutas poderão ser treinados de modo a aumentar a eficácia clínica. Concluímos com implicações para o treino e investigação de persuasão psicoterapêutica. Destacamos a necessidade de desenvolver diretrizes de prática deliberada para persuasão clínica, e a análise de processo das competências interpessoais do terapeuta dentro de sessão. No segundo estudo, propomos diretrizes com suporte empírico para o treino de psicoterapeutas focado no fornecer de racionais clínicos convincentes. Apresentamos critérios para o treino sistemático desta competência, bem como um exemplo de implementação dessas diretrizes. Concluímos com implicações sobre como os métodos de prática deliberada poderão contribuir para o treino tradicional de psicoterapeutas. No último estudo, investigamos as competências interpessoais e persuasão terapêutica numa amostra de 18 psicoterapeutas de três modalidades clínicas e 54 sessões gravadas em vídeo. Os resultados indicam que as competências interpessoais do terapeuta são um preditor positivo significativo do envolvimento emocional e cognitivo do cliente (“experienciação”) dentro de sessão. Foi também encontrado que fornecer racionais clínicos foi um preditor negativo significativo da experienciação do cliente. Nenhuma diferença foi encontrada para as competências interpessoais do terapeuta entre diferentes modalidades, mas diferenças foram encontradas para a experienciação do cliente e o fornecer de racionais clínicos. Os contributos decorrentes destes estudos fornecem implicações para o treino de psicoterapeutas e investigação empírica futura, sugerindo próximos passos que poderão, em última instância, contribuir para o aumento da eficácia clínica de psicoterapeutas.
- Agressores sexuais de pessoas com especial vulnerabilidade : dinâmicas abusivas, distorções cognitivas, estratégias de coping e atitudes sexuaisPublication . Baúto, Ricardo Jorge Ventura; Leal, Isabel Pereira; Cardoso, Jorge Manuel SantosA presença de limitações físicas e/ou intelectuais, assim como a idade da vítima, são referidas na literatura internacional como características de especial vulnerabilidade para a vitimação sexual. Contudo, os estudos são escassos no que diz respeito aos fatores motivacionais relacionados com a agressão de pessoas com especial vulnerabilidade. As Teorias/Modelos etiológicos sugerem, como característica comum específica das vítimas, o facto de, na sua maioria, estarem dependentes de terceiros. De acordo com a literatura sobre a agressão sexual perpetrada sobre esta franja populacional, a facilidade de acesso à vítima, representa um importante fator motivacional na passagem ao ato. Contudo, para que esta ocorra, outros fatores terão de estar presentes. As distorções cognitivas reúnem consenso na literatura, suportando a minimização ou legitimação dos comportamentos. Paralelamente, défices ao nível da regulação emocional dos agressores, tendem a ser compensados com recurso a estratégias de coping sexual, contribuindo para o acentuar de comportamentos compulsivos, fortemente associados à agressão sexual. Alicerçadas nas dinâmicas sexuais dos sujeitos, as atitudes sexuais tendem a surgir associadas a práticas impessoais e de instrumentalização, com vista à gratificação sexual. Este estudo teve como objetivo principal consolidar o conhecimento acerca das características associadas à perpetração de violência sexual em grupos com especial vulnerabilidade. Para tal, recorreu-se-se a três amostras de forma a dar resposta aos objetivos específicos. A primeira amostra resultou de 72 processos individuais de reclusos, a cumprir pena de prisão efetiva por crimes de abuso sexual de crianças e menores dependentes e teve como objetivo desenvolver um Modelo exploratório baseado na técnica dos perfis criminais, que permitisse descrever as práticas abusivas, relação com as vítimas e oportunidade, assim como a capacidade de assumir a responsabilidade pelo crime; A segunda amostra foi constituída por quatro abusadores sexuais condenados pelo crime de abuso sexual de pessoa incapaz de resistência por razão de anomalia, psíquica ou físicas, aos quais foram realizadas quatro entrevistas visando identificar e descrever o conteúdo das suas narrativas, permitindo assim definir diferenças/especificações em comparação com outras tipologias de agressores; A terceira, e última amostra, foi constituída por 141 sujeitos, sendo que 41.8% (n=59) eram reclusos a cumprir pena de prisão efetiva por crimes de abuso sexual de crianças e menores dependentes e 58.2% (n=82) sujeitos pertencentes à população geral, tendo-se como objetivo analisar diferenças entre abusadores sexuais e a população geral, ao nível das distorções cognitivas, estratégias de coping sexual, e atitudes sexuais. Procurou-se assim estabelecer os pressupostos necessários para desenvolver um Modelo preditivo hierárquico baseado nestas variáveis. Dos resultados obtidos no primeiro estudo, foi possível definir um Modelo com quatro tipologias criminais, sendo que em 78.8% dos casos configuravam agressão ocrrida em contexto intrafamiliar, com um acesso privilegiado às vítimas. Os resultados do segundo estudo revelaram que as cognições formuladas pelos abusadores de pessoa incapaz de resistência, por razão de anomalia psíquica ou física, apresentam contornos de legitimação e/ou minimização das situações de abuso semelhantes aos presentes na literatura, ainda que com uma argumentação específica ao nível da capacidade da vítima consentir nos contactos sexuais. O terceiro estudo permitiu demonstrar que a presença de distorções cognitivas, estratégias de coping sexual e atitudes sexuais, permitem distinguir com uma acuidade 82% entre um grupo de agressores sexuais e a população geral. Em suma, esta investigação consolida o conhecimento existente sobre a agressão sexual e apresenta resultados empíricos que apontam para a relevância das variáveis cognitivas, no comportamento sexual violento. Paralelamente, os resultados obtidos sugerem a necessidade de aprofundar a investigação junto de vítimas especialmente vulneráveis, uma vez que as características dos seus agressores tendem a ser diferenciadas face a outras tipologias, o que poderá ter impacto na definição dos planos de intervenção e na avaliação de risco futuro destes sujeitos.
- Relação conjugal ao longo do ciclo de vida: satisfação, comunicação, motivação, coesão e adaptabilidadePublication . Afonso, José de Abreu; Leal, Isabel PereiraO estudo das relações conjugais tem mostrado que sujeitos casados são, regra geral, mais saudáveis e felizes (Gottman, 1994, Orbuch & Custer, 1995, Vanassche, Swicegood, & Matthijs, 2013). No entanto, a maior parte das uniões terminam em divórcio, principalmente devido a níveis baixos de satisfação. Os terapeutas familiares compreenderam que é essencial contextualizar as crises conjugais no seu ciclo vital, caracterizado por diferentes autores (Carter & McGoldric, 1982, Neighbourgh, 1985, Relvas, 2004), percebendo também que as fases de transição são as de maior vulnerabilidade (Haley, 1984). Por outro lado, a investigação sobre conjugalidade tem demonstrado que o género é uma variável incontornável quando se quer compreender a dinâmica das relações amorosas. A partir do estudo de casais que superam saudavelmente os períodos de crise que marcam a transição entre as etapas da vida conjugal pretende-se perceber os factores que funcionam como promotores dessa resiliência bem como os de maior fragilidade. Assim, em casais que apresentavam elevados índices de Satisfação Conjugal (amor e funcionamento), fomos estudar as características da relação, a sua Coesão e Adaptabilidade, a Comunicação dos afectos e das divergências, bem como a Motivação para a conjugalidade. Realizou-se um estudo transversal, comparativo e correlacional, adaptando e validando instrumentos, e conduzindo cinco estudos empíricos. As amostras cujos participantes, deram o consentimento informado, variaram entre os 436 e os 464 (nos artigos de validação), e os 370 (nos artigos empíricos). Os resultados, por género, mostram uma variação semelhante da Satisfação Global, padrões Comunicacionais e padrões de Coesão e Adaptabilidade conjugal. Os resultados mostram que a dimensão Amor exerce uma influência maior que a do Funcionamento na Satisfação Global dos casais. Ao longo do casamento, na dimensão Amor, as mulheres apresentam flutuações num maior número de áreas que os homens. Em todas os períodos as mulheres atribuem a satisfação mais a si próprias que aos seus parceiros. Na motivação, aumenta a motivação extrínseca dos homens, especialmente nos primeiros três estádios do casamento. Considerando o ciclo de vida, a Satisfação Global revela valores semelhantes entre géneros e mais elevados antes da parentalidade, sendo esta a única fase da vida onde as mulheres apresentam valores mais altos de satisfação que os homens. Há também um menor uso de estratégias de comunicação positiva nos casais com filhos. Considerando cada uma das sete etapas do ciclo conjugal, pelo menos em quatro, uma estratégia de comunicação ou gestão de conflito apresenta diferenças significativas entre homens e mulheres. Naquelas em que se verificam mudanças, as mulheres apresentam alterações a partir de fases mais precoces. A estratégia de comunicação nos casais impacta a sua satisfação e felicidade. Coesão e Adaptabilidade não apresentaram diferenças significativas. Casais em união de facto tendem a utilizar mais vezes estratégias que envolvem a expressão de afectos e emoções do que os casados. Não se verificam diferenças significativas entre o primeiro e o segundo casamento. Ao identificar a fase de vida com maior instabilidade e as diferenças de percepção da vida conjugal entre homens e mulheres, esta investigação pode dar pistas interessantes para o trabalho clínico com casais.
- Características dos agressores sexuais encarcerados em Portugal: consumo de pornografia, transversalidade na escolha de vítimas e versatilidade criminalPublication . Saramago, Mariana Filipa de Amaral; Leal, Isabel Pereira; Cardoso, Jorge Manuel SantosO consumo de pornografia constitui uma motivação que pode levar à perpetração de violência sexual por parte de alguns indivíduos. Apesar disso, as características associadas ao consumo de pornografia estão ainda insuficientemente compreendidas, designadamente as dos indivíduos que cometeram agressões sexuais. Paralelamente, existe falta de informação sobre o fenómeno dos agressores sexuais que são transversais na escolha de vítimas de diferentes faixas etárias, de ambos os géneros, em relação às quais podem apresentar diferentes tipos de relacionamentos. Os agressores sexuais transversais tendem a agredir várias vítimas, o que está associado ao risco de reincidência sexual. De igual forma, a versatilidade criminal nos agressores está relacionada com um maior risco de reincidência, sendo comum os agressores sexuais também perpetrarem crimes de outra natureza. Este estudo teve como objetivo principal contribuir para o desenvolvimento da compreensão das dinâmicas entre os agressores sexuais e as suas vítimas. Especificamente, pretendeu-se: (a) caracterizar vários aspetos do consumo de pornografia por parte dos agressores sexuais na altura em que cometeram o crime e identificar características que distinguem aqueles que utilizaram este tipo de materiais dos que não o fizeram; (b) examinar a prevalência dos agressores sexuais transversais na escolha de vítimas numa amostra portuguesa, bem como verificar se um conjunto de variáveis sociodemográficas e criminogénicas contribuem para a classificação de um agressor como sendo transversal; e (c) testar dois modelos teóricos sobre a etiologia do crime aplicados ao contexto da especialização/ versatilidade criminal em agressores sexuais. Para a realização do estudo recorreu-se, inicialmente, a uma amostra retrospetiva, através da consulta processual de 261 reclusos do sexo masculino a cumprir penas de prisão por crimes sexuais. Apenas 146 reclusos aceitaram participar nas outras fases da investigação, que inclui uma entrevista sobre o seu histórico de consumo de pornografia, sendo ainda administradas medidas que avaliavam as fantasias sexuais, a impulsividade e o raciocínio moral. Os instrumentos não aferidos para a população portuguesa foram validados no presente estudo. Os resultados da análise ao consumo de pornografia indicaram que 43% dos agressores sexuais tentavam reproduzir os conteúdos visualizados na pornografia na altura em que cometeram o crime, e que as fantasias sexuais estavam associadas ao consumo de pornografia nessa altura. Os resultados do segundo estudo revelaram que a idade aquando do cometimento do crime, o consumo de álcool, estar divorciado/ separado/ viúvo, e estar empregado contribuíam para a probabilidade de os agressores serem transversais na escolha de vítimas em geral. No terceiro estudo, constatou-se que o raciocínio moral foi o único preditor significativo da especialização/ versatilidade criminal nos agressores sexuais. Em suma, esta investigação contribuiu com importantes evidências empíricas, possibilitando o desenvolvimento do conhecimento relativamente a várias dinâmicas dos agressores sexuais. Os resultados poderão ter impacto ao nível dos profissionais que trabalham nesta área, seja na avaliação do risco, seja no desenvolvimento de programas de tratamentos adaptados especificamente para as características destes indivíduos.