PCLI - Tese de doutoramento
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Browsing PCLI - Tese de doutoramento by Field of Science and Technology (FOS) "Ciências Sociais::Psicologia"
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- Agressores sexuais de pessoas com especial vulnerabilidade : dinâmicas abusivas, distorções cognitivas, estratégias de coping e atitudes sexuaisPublication . Baúto, Ricardo Jorge Ventura; Leal, Isabel Pereira; Cardoso, Jorge Manuel SantosA presença de limitações físicas e/ou intelectuais, assim como a idade da vítima, são referidas na literatura internacional como características de especial vulnerabilidade para a vitimação sexual. Contudo, os estudos são escassos no que diz respeito aos fatores motivacionais relacionados com a agressão de pessoas com especial vulnerabilidade. As Teorias/Modelos etiológicos sugerem, como característica comum específica das vítimas, o facto de, na sua maioria, estarem dependentes de terceiros. De acordo com a literatura sobre a agressão sexual perpetrada sobre esta franja populacional, a facilidade de acesso à vítima, representa um importante fator motivacional na passagem ao ato. Contudo, para que esta ocorra, outros fatores terão de estar presentes. As distorções cognitivas reúnem consenso na literatura, suportando a minimização ou legitimação dos comportamentos. Paralelamente, défices ao nível da regulação emocional dos agressores, tendem a ser compensados com recurso a estratégias de coping sexual, contribuindo para o acentuar de comportamentos compulsivos, fortemente associados à agressão sexual. Alicerçadas nas dinâmicas sexuais dos sujeitos, as atitudes sexuais tendem a surgir associadas a práticas impessoais e de instrumentalização, com vista à gratificação sexual. Este estudo teve como objetivo principal consolidar o conhecimento acerca das características associadas à perpetração de violência sexual em grupos com especial vulnerabilidade. Para tal, recorreu-se-se a três amostras de forma a dar resposta aos objetivos específicos. A primeira amostra resultou de 72 processos individuais de reclusos, a cumprir pena de prisão efetiva por crimes de abuso sexual de crianças e menores dependentes e teve como objetivo desenvolver um Modelo exploratório baseado na técnica dos perfis criminais, que permitisse descrever as práticas abusivas, relação com as vítimas e oportunidade, assim como a capacidade de assumir a responsabilidade pelo crime; A segunda amostra foi constituída por quatro abusadores sexuais condenados pelo crime de abuso sexual de pessoa incapaz de resistência por razão de anomalia, psíquica ou físicas, aos quais foram realizadas quatro entrevistas visando identificar e descrever o conteúdo das suas narrativas, permitindo assim definir diferenças/especificações em comparação com outras tipologias de agressores; A terceira, e última amostra, foi constituída por 141 sujeitos, sendo que 41.8% (n=59) eram reclusos a cumprir pena de prisão efetiva por crimes de abuso sexual de crianças e menores dependentes e 58.2% (n=82) sujeitos pertencentes à população geral, tendo-se como objetivo analisar diferenças entre abusadores sexuais e a população geral, ao nível das distorções cognitivas, estratégias de coping sexual, e atitudes sexuais. Procurou-se assim estabelecer os pressupostos necessários para desenvolver um Modelo preditivo hierárquico baseado nestas variáveis. Dos resultados obtidos no primeiro estudo, foi possível definir um Modelo com quatro tipologias criminais, sendo que em 78.8% dos casos configuravam agressão ocrrida em contexto intrafamiliar, com um acesso privilegiado às vítimas. Os resultados do segundo estudo revelaram que as cognições formuladas pelos abusadores de pessoa incapaz de resistência, por razão de anomalia psíquica ou física, apresentam contornos de legitimação e/ou minimização das situações de abuso semelhantes aos presentes na literatura, ainda que com uma argumentação específica ao nível da capacidade da vítima consentir nos contactos sexuais. O terceiro estudo permitiu demonstrar que a presença de distorções cognitivas, estratégias de coping sexual e atitudes sexuais, permitem distinguir com uma acuidade 82% entre um grupo de agressores sexuais e a população geral. Em suma, esta investigação consolida o conhecimento existente sobre a agressão sexual e apresenta resultados empíricos que apontam para a relevância das variáveis cognitivas, no comportamento sexual violento. Paralelamente, os resultados obtidos sugerem a necessidade de aprofundar a investigação junto de vítimas especialmente vulneráveis, uma vez que as características dos seus agressores tendem a ser diferenciadas face a outras tipologias, o que poderá ter impacto na definição dos planos de intervenção e na avaliação de risco futuro destes sujeitos.
- Características dos agressores sexuais encarcerados em Portugal: consumo de pornografia, transversalidade na escolha de vítimas e versatilidade criminalPublication . Saramago, Mariana Filipa de Amaral; Leal, Isabel Pereira; Cardoso, Jorge Manuel SantosO consumo de pornografia constitui uma motivação que pode levar à perpetração de violência sexual por parte de alguns indivíduos. Apesar disso, as características associadas ao consumo de pornografia estão ainda insuficientemente compreendidas, designadamente as dos indivíduos que cometeram agressões sexuais. Paralelamente, existe falta de informação sobre o fenómeno dos agressores sexuais que são transversais na escolha de vítimas de diferentes faixas etárias, de ambos os géneros, em relação às quais podem apresentar diferentes tipos de relacionamentos. Os agressores sexuais transversais tendem a agredir várias vítimas, o que está associado ao risco de reincidência sexual. De igual forma, a versatilidade criminal nos agressores está relacionada com um maior risco de reincidência, sendo comum os agressores sexuais também perpetrarem crimes de outra natureza. Este estudo teve como objetivo principal contribuir para o desenvolvimento da compreensão das dinâmicas entre os agressores sexuais e as suas vítimas. Especificamente, pretendeu-se: (a) caracterizar vários aspetos do consumo de pornografia por parte dos agressores sexuais na altura em que cometeram o crime e identificar características que distinguem aqueles que utilizaram este tipo de materiais dos que não o fizeram; (b) examinar a prevalência dos agressores sexuais transversais na escolha de vítimas numa amostra portuguesa, bem como verificar se um conjunto de variáveis sociodemográficas e criminogénicas contribuem para a classificação de um agressor como sendo transversal; e (c) testar dois modelos teóricos sobre a etiologia do crime aplicados ao contexto da especialização/ versatilidade criminal em agressores sexuais. Para a realização do estudo recorreu-se, inicialmente, a uma amostra retrospetiva, através da consulta processual de 261 reclusos do sexo masculino a cumprir penas de prisão por crimes sexuais. Apenas 146 reclusos aceitaram participar nas outras fases da investigação, que inclui uma entrevista sobre o seu histórico de consumo de pornografia, sendo ainda administradas medidas que avaliavam as fantasias sexuais, a impulsividade e o raciocínio moral. Os instrumentos não aferidos para a população portuguesa foram validados no presente estudo. Os resultados da análise ao consumo de pornografia indicaram que 43% dos agressores sexuais tentavam reproduzir os conteúdos visualizados na pornografia na altura em que cometeram o crime, e que as fantasias sexuais estavam associadas ao consumo de pornografia nessa altura. Os resultados do segundo estudo revelaram que a idade aquando do cometimento do crime, o consumo de álcool, estar divorciado/ separado/ viúvo, e estar empregado contribuíam para a probabilidade de os agressores serem transversais na escolha de vítimas em geral. No terceiro estudo, constatou-se que o raciocínio moral foi o único preditor significativo da especialização/ versatilidade criminal nos agressores sexuais. Em suma, esta investigação contribuiu com importantes evidências empíricas, possibilitando o desenvolvimento do conhecimento relativamente a várias dinâmicas dos agressores sexuais. Os resultados poderão ter impacto ao nível dos profissionais que trabalham nesta área, seja na avaliação do risco, seja no desenvolvimento de programas de tratamentos adaptados especificamente para as características destes indivíduos.
- Dialectos da dor: Representações sociais sobre as funções dos comportamentos auto-lesivos em adolescentesPublication . Gaspar, Eva Duarte; Pereira, Maria GouveiaOs comportamentos auto-lesivos são actualmente considerados um problema de saúde pública, especialmente em adolescentes e jovens adultos. Tem existido um crescente foco investigacional nesta área e tem-se vindo a reconhecer a importância da esfera interpessoal, particularmente em termos de prevenção e intervenção. Contudo, são escassas as investigações que abordem as representações sociais sobre as funções destes comportamentos, nomeadamente no âmbito familiar e do grupo de pares. De igual modo, são poucos os instrumentos relativos a comportamentos auto-lesivos validados para Portugal que possibilitem o estudo destes comportamentos e das suas representações sociais. O primeiro artigo consiste na adaptação e validação para adolescentes Portugueses da primeira secção do Inventory of Statements About Self-Injury (Klonsky & Glenn, 2009). A análise das qualidades psicométricas e da estrutura factorial deste instrumento revelou boa consistência interna e uma organização dos métodos auto-lesivos em três factores (Comportamentos Auto-Lesivos Severos e Tentativas de Suicídio; Comportamentos Auto- Lesivos Leves/Moderados; e Consumo de Substâncias Psicoactivas). Assim, este inventário demonstrou ser um bom recurso para o estudo da frequência dos comportamentos auto-lesivos e dos métodos utilizados. No segundo artigo apresentamos uma análise qualitativa de várias entrevistas, que teve como objectivo a descrição e comparação das representações sociais sobre as funções dos comportamentos auto-lesivos de três grupos: adolescentes com uma história destes comportamentos, adolescentes sem uma história destes comportamentos e adultos igualmente sem uma história destes comportamentos. Os participantes referenciaram oito funções que vão ao encontro das descritas na literatura (e.g. Klonsky, 2007b) e duas novas funções. Foram também encontradas diferenças entre os grupos, nomeadamente que os adultos enfatizaram as funções interpessoais e que ambos os grupo de adolescentes mencionaram mais funções intrapessoais. Os artigos três e quatro apresentam a construção e validação de dois questionários para o estudo das representações sociais sobre as funções dos comportamentos auto-lesivos, para adolescentes (Artigo 3) e para adultos (Artigo 4). Estes instrumentos foram desenvolvidos com base na segunda secção do Inventory of Statements About Self-Injury (Klonsky & Glenn, 2009), na análise anteriormente mencionada de entrevistas, e na análise de uma amostra da imprensa escrita generalista Portuguesa. Ambos os questionários demonstraram boas viii qualidades psicométricas em termos de consistência interna e de estrutura factorial, possibilitando a sua utilização em estudos posteriores. O dois últimos artigos (artigo 5 e artigo 6) tiveram como objectivo a exploração e comparação das representações sociais sobre as funções dos comportamentos auto-lesivos de adolescentes com e sem estes comportamentos e de pais. Os instrumentos utilizados nestes estudos consistiram no Inventário de Comportamentos Auto-Lesivos (ICAL), no Questionário das Representações sobre as Funções dos Comportamentos Auto-Lesivos para Adolescentes (QRFCAL-Adolescentes) e no Questionário das Representações sobre as Funções dos Comportamentos Auto-Lesivos para Adultos (QRFCAL-Adultos), previamente validados. O artigo 5 focou-se na comparação entre as representações sociais de adolescentes com e sem comportamentos auto-lesivos, e na comparação das representações sociais de mães e pais de adolescentes com e sem comportamentos auto-lesivos. Em termos gerais, os resultados obtidos revelaram que os adolescentes sem comportamentos auto-lesivos atribuíram mais relevância às funções interpessoais e que os adolescentes com comportamentos valorizaram algumas funções intrapessoais. Por acréscimo, os pais de adolescentes com e sem estes comportamentos apresentaram algumas diferenças entre as suas representações sociais, especialmente no sentido em que as mães de adolescentes com comportamentos auto-lesivos enfatizaram algumas funções intrapessoais. O artigo 6 baseou-se na comparação das representações sociais sobre as funções de comportamentos auto-lesivos em famílias (filho/a, mãe e pai) de adolescentes com e sem estes comportamentos. A partir da análise destes resultados surgiram diferenças consideráveis entre ambos os grupos de adolescentes e os respectivos pais, principalmente no sentido em que os pais enfatizaram as funções interpessoais e desvalorizaram as funções intrapessoais. Estas diferenças acentuaram-se nas famílias de adolescentes com comportamentos auto-lesivos.
- Ecos emocionais das minhas memórias : Memórias autobiográficas voluntárias e involuntárias na depressão majorPublication . Balola, Michele Ferreira; Cláudio, VictorEsta investigação partiu do objectivo geral de estabelecer uma relação entre memórias autobiográficas, esquemas precoces desadaptativos, vinculação e relações interpessoais na génese e manutenção da depressão major. Procurou ainda analisar a evocação de memórias autobiográficas involuntárias na depressão major. A depressão é uma perturbação emocional com uma elevada prevalência, em que se verificam alterações cognitivas ao nível mnésico, designadamente na memóra autobiográfica. A vinculação, esquemas e relações interpessoais parecem relacionar-se com a memória autobiográfica, aspectos que em conjunto podem ser factores importantes à compreensão da depressão e sua manutenção. Os resultados observados apontam, nos sujeitos deprimidos, para a evocação de memórias autobiográficas de valência emocional negativa e para a diminuição da especificidade da memória. Estes resultados foram também observáveis no grupo de sujeitos com ansiedade generalizada. O mesmo não se verificou nos sujeitos sem alteração psicopatológica que, apresentaram um predomínio de acontecimentos de valência emocional positiva, sendo igualmente específicos. Os acontecimentos de valência emocional negativa e os esquemas precoces demonstraram ser variáveis determinantes para a depressão. Constatámos uma tendência, para na presença de esquemas precoces existir uma maior evocação de informação de valência emocional negativa. Estes acabam por se reforçar mutuamente, levando também ao reforço do ciclo depressivo. Na evocação de memórias autobiográficas involuntárias, os sujeitos deprimidos evocaram um maior número de acontecimentos de valência emocional negativa e de acontecimentos específicos, embora ao nível da valência se tenha verificado uma tendência para a recuperação de informação emocionalmente positiva. Esta investigação permitiu-nos obter uma compreensão alargada dos diferentes factores que contribuem para a génese e manutenção da depressão, bem como identifica possíveis factores de maior vulnerabilidade para a manutenção do ciclo depressivo. Sublinha ainda a importância do papel dos esquemas nos diferentes processos de evocação e, sugere que durante o processo psicoterapêutico exista igualmente um enfoque na recuperação da informação de forma involuntária.
- Envelhecimento e ajustamento psicossocial de pessoas heterossexuais, homossexuais e bissexuais no contexto português: estigma, saúde e resiliênciaPublication . Gonçalves, José Alberto Ribeiro; Leal, Isabel; Costa, Pedro Alexandre Nunes daO envelhecimento demográfico destaca-se como uma realidade cada vez mais acentuada e com implicações multifatoriais na vida diária das populações. Em particular, o ajustamento psicossocial tem um papel proeminente no processo de envelhecimento ativo e saudável. Contudo, as pessoas seniores Lésbicas, Gays e Bissexuais (LGB) têm desafios psicossociais e de saúde extraordinários aos apresentados às restantes pessoas seniores. Este trabalho teve como principal objetivo avaliar o processo de ajustamento psicossocial das pessoas seniores LGB e o seu impacto em diversos indicadores de saúde mental e bem-estar. Desenvolveu-se um estudo com uma abordagem metodológica mista e transversal, com duas amostras independentes, 648 seniores cisgénero – 368 heterossexuais e 280 LGB - participaram na fase quantitativa através de questionários online e 23 seniores gays e bissexuais participaram na fase qualitativa através de entrevistas individuais. Como outputs principais obtiveram-se um capítulo teórico (capítulo 2) e seis empíricos (capítulos 3-8). Os principais resultados destacam: (1) uma relação negativa e direta entre estigma sexual e os indicadores de saúde mental das pessoas seniores LGB; (2) a existência de duplo estigma (sexual e etário) entre seniores LGB portugueses e a sua importante relação com piores estados de saúde; (3) o duplo impacto negativo da solidão e do idadismo na saúde mental das pessoas seniores heterossexuais e o destacado papel mediador da resiliência nessa relação; (4) a existência de efeitos negativos dos fatores de stress psicossocial na saúde mental das pessoas seniores LGB e heterossexuais para além dos efeitos dos fatores protetores psicossociais; (5) piores níveis nos fatores stressores em seniores LGB e, simultaneamente, melhores níveis nos fatores protetores em seniores heterossexuais; (6) a construção da identidade sexual em seniores LGB portugueses marcada por um contexto psicossocial particularmente violento e estigmatizante; (7) a influencia saliente do contexto psicossocial e da construção identitária na vivência das relações amorosas mais prejudicadas nas pessoas seniores LGB; e (8) a capacidade de ajustamento psicossocial e obtenção de bem-estar em seniores LGB em situações de risco extraordinário (contexto de COVID-19). Estes resultados destacam os efeitos deletérios que o stress minoritário pode ter na saúde, no bem-estar e no ajustamento psicossocial das pessoas seniores LGB, adquirindo um efeito cumulativo de estigmatização ao longo do ciclo de vida e com uma natureza multifatorial – nomeadamente histórica, social, relacional e pessoal. Efeitos estes que refletem-se também em baixos níveis de fatores protetores e elevados níveis de fatores stressores em comparação com seniores heterossexuais. Contudo, revelam também a capacidade excecional de resiliência nas pessoas seniores LGB perante a adversidade ao longo da vida que, apesar de alguns custos psicossociais e de saúde, conseguiram desenvolver competências de gestão de estigma e promoção de bem-estar. Este estudo salienta a importância de futuras intervenções psicossociais e comunitárias que foquem o contexto social comum como um dos fatores de promoção de segurança e envelhecimento saudável em seniores LGB.
- Fatores psicológicos e familiares nos comportamentos autolesivos dos adolescentes: Da compreensão à intervenção em contexto escolarPublication . Candeias, Maria de Jesus Canelas; Pereira, Maria GouveiaOs comportamentos autolesivos são um grave problema de saúde pública, especialmente entre adolescentes e jovens adultos, necessitando de intervenções preventivas eficazes. Estes comportamentos são influenciados por variáveis sociodemográficas, individuais e relacionais, sendo fundamental compreender melhor o papel dessas variáveis na promoção deste comportamento e desenvolver programas preventivos, particularmente em contextos escolares. Esta tese analisou como é que variáveis sociodemográficas (sexo e idade), individuais (perturbação de personalidade borderline, impulsividade e ideação suicida) e relacionais (funcionamento familiar) contribuem para os comportamentos autolesivos, bem como explora os mecanismos que ligam o funcionamento familiar a estes comportamentos. Para além disso, foi desenvolvido e avaliado um programa de intervenção escolar para adolescentes, professores e auxiliares educativos, com o objetivo de reduzir a prevalência de comportamentos autolesivos. O primeiro estudo validou a versão original da escala Borderline Personality Features Scale for Children para adolescentes, resultando na versão BPFSC-12, composta por 12 itens organizados em quatro fatores de primeira ordem (Instabilidade Afetiva, Problemas de Identidade, Relacionamentos Negativos e Autoagressão) e um fator de segunda ordem, "Características de Personalidade Borderline". Esta versão revelou-se uma medida válida e fiável para a deteção precoce de perturbação de personalidade borderline em adolescentes. O segundo estudo explorou, a contribuição de variáveis sociodemográficas, relacionais e individuais para os comportamentos autolesivos. Observou-se que o género e a idade são preditores significativos, com as raparigas apresentando maior risco. No entanto, fatores intrapessoais, como a perturbação de personalidade borderline e a ideação suicida, mostraram um impacto mais forte na predisposição para estes comportamentos do que o funcionamento familiar. O terceiro estudo investigou se a perturbação de personalidade borderline e a ideação suicida atuam como mediadores entre o funcionamento familiar e os comportamentos autolesivos. Verificou-se que ambos desempenham papéis mediadores significativos, com a ideação suicida como mediador total e a perturbação de personalidade borderline como mediador parcial. A mediação em série indicou que a relação entre o funcionamento familiar e os comportamentos autolesivos é totalmente mediada pela perturbação da personalidade borderline e pela ideação suicida. No âmbito das intervenções, o programa “Healthy Minds” foi desenvolvido para prevenir comportamentos autolesivos em adolescentes em contexto escolar. O programa mostrou-se eficaz na redução das taxas destes comportamentos, na correção de crenças erradas, e na promoção da procura de ajuda profissional, embora sem impacto significativo no reconhecimento de sinais de alerta e na ideação suicida. Adicionalmente, foi implementado um programa de formação para professores e auxiliares educativos, capacitando-os para identificar e intervir em casos de comportamentos autolesivos. A intervenção mostrou-se eficaz na redução de falsas crenças, no aumento da capacidade de reconhecer sinais de alerta e na promoção de atitudes mais adaptativas em relação a estes comportamentos. Em conclusão, esta tese contribui para a compreensão dos comportamentos autolesivos, destacando a importância de considerar tanto variáveis intrapessoais (como a perturbação de personalidade borderline e a ideação suicida) quanto relacionais (como o funcionamento familiar). Reforça a necessidade de estratégias preventivas contínuas e integradas para reduzir a prevalência destes comportamentos e promover o bem-estar dos adolescentes, sublinhando a importância de programas eficazes em contexto escolar.
- Foi assim que aconteceu: A nossa família - as trajetórias resilientes das famílias constituídas por procriação medicamente assistida ou inseminação por dador face aos desafios inerentes à sua transição para a ParentalidadePublication . Carneiro, Francis Anne Teplitzky; Leal, Isabel Maria PereiraComo consequência de profundas mudanças socio-legais, demográficas e tecnocientíficas têm surgido as novas famílias (formadas através de PMA, constituídas por casais do mesmo género e constituídas por mães solteiras por escolha). Por serem configurações familiares que se afastam da estrutura tradicional nuclear, várias questões têm surgido relativamente às suas implicações para o ajustamento psicológico das crianças. Também muito pouco se sabe ainda sobre os constrangimentos e recursos específicos destas famílias durante a sua transição para a parentalidade, nomeadamente sobre o seu funcionamento familiar. Neste sentido foi desenvolvido um estudo transversal multi-métodos, inserido numa matriz clínicodesenvolvimental, denominado A NOSSA FAMÍLIA: FOI ASSIM QUE ACONTECEU. Este pretendeu avaliar o funcionamento familiar e os processos familiares das novas famílias ao nível da parentalidade e do ajustamento infantil. Os resultados principais revelaram que as crianças das novas famílias apresentam um ajustamento psicológico positivo comparativamente aos dados normativos de crianças da mesma faixa etária e aos dados das crianças de outras famílias, tais como a nuclear tradicional. Os resultados revelaram também que as novas famílias constituídas através de PMA ou inseminação por dador experienciam um Distressful Loop, composto por três fases, e que se repetiu durante meses ou anos até as famílias concretizarem a parentalidade. A primeira fase deste Loop representa o momento em que pais/mães aguardam ansiosamente pelos resultados médicos. A segunda fase representa as tentativas de PMA falhadas ou a perda gestacional e os consequentes sentimentos de desilusão, humor depressivo e luto. A terceira fase representa a recuperação psicológica e o reajuste das famílias face às consequências negativas das tentativas de PMA falhadas ou perdas gestacionais, até à sua decisão final de realizarem outra tentativa de PMA e entrarem novamente no Loop. Não obstante, as famílias apresentaram também importantes características e recursos durante todo o seu processo de PMA que as permitiram amenizar o impacto negativo do Distressful Loop e dos stressores associados à PMA, nomeadamente, otimismo e positividade, tenacidade e perseverança, fé e espiritualidade, comunicação, sincronização e coesão do casal e suporte social. Verificou-se também que as famílias constituídas por mães lésbicas/bissexuais navegaram por diferentes contextos legais durante a sua transição para a maternidade e consequentemente enfrentaram desafios e stressores diferentes, embora todas tem sentido a ausência de representação mental e social desta maternidade, inclusivamente nas suas famílias de origem. Não obstante, estas mães demonstraram ser capazes de transformar o impacto negativo dos stressores mencionados através de várias formas, tais como o aumento e manutenção da visibilidade da sua identidade minoritária e da sua família, participação no ativismo pelos direitos LGBTQ+, procura de suporte da comunidade LGBTQ+, ou pela revelação seletiva da sua família. Foram também muito ativas e persistentes na recuperação de conexões e suporte com os membros das suas famílias de origem. Este estudo destaca a importância de serem desenvolvidas intervenções psicoterapêuticas que tenham em conta as vicissitudes mencionadas relativamente às novas famílias, incluindo as suas vulnerabilidades e acentuado as suas forças e estratégias para que possam navegar pelas várias trajetórias da parentalidade de forma resiliente e saudável.
- Gravidez e mudança catastrófica : Três estudos de casoPublication . Rosado, Filipa Falcão; Marques, Maria EmíliaA gravidez tem sido compreendida pela literatura psicanalítica enquanto experiência crítica, regressiva e maturativa, na qual são revisitados os organizadores do desenvolvimento psicossexual infantil que estruturam o psiquismo. É proposto que a experiência psíquica da gravidez possa ser conceptualizada como uma mudança catastrófica: uma experiência violenta e subversiva que, ao ser transformada pelo aparelho para pensar pensamentos da mulher grávida, transforma a própria mente. Estudar a forma como a mente da mulher grávida experimenta, transforma e significa a gravidez, transformando-se nesse processo, sublinhando o carácter original e subjetivamente singular desta experiência é o objetivo desta investigação. A Teoria das Transformações de Bion é convocada como modelo de observação da mente da grávida. A gravidez, enquanto experiência emocional, é entendida como elemento β a ser transformado num elemento psíquico α, pelo aparelho para pensar pensamentos. Através do funcionamento de PS↔︎D e ♀♂, a grávida constitui a gravidez como um objeto psíquico e significa-o. São apresentados, analisados e discutidos três estudos de caso. Os estudos baseiam-se nas narrativas de mulheres grávidas, recolhidas em cada um dos trimestres das suas gravidezes, através de Entrevistas Narrativas de Associação Livre e da aplicação das provas projetivas Rorschach e TAT (esta última numa versão reduzida). A análise das narrativas é orientada por uma matriz comum, na qual se operacionalizam os conceitos centrais da Teoria das Transformações de Bion, de forma a ser possível observar e descrever o funcionamento de PS↔︎D e ♀♂ ao longo da gravidez de cada uma das mulheres estudadas. Um padrão transformativo comum aos três casos é assinalado, suficientemente flexível para que as singularidades de cada percurso sejam reconhecidas e destacadas. O padrão transformativo verificado permite sustentar que a gravidez produz uma alteração violenta e subversiva da barreira de contacto e, consequentemente, no tecido psíquico espácio-temporal. Permite, igualmente, considerar que a reconfiguração do tecido mental é realizada através do uso dos objetos relacionais como continentes auxiliares, da exploração do corpo habitado e em transformação como suporte do pensamento, e da bidirecionalidade da temporalidade psíquica como mecanismo de (re)significação da experiência. Finalmente, permite sugerir que K, enquanto vínculo emocional, que alimenta a curiosidade e o desejo de compreender a experiência que se propõe à mente para ser pensada, é um elemento determinante e central nesta reconfiguração do tecido psíquico. Uma nova perspetiva sobre a experiência psíquica da gravidez emerge desta investigação, relevante para as intervenções psicoterapêuticas com mulheres grávidas, mas também para as intervenções conduzidas pelos profissionais de saúde, designadamente obstetras, enfermeiros e formadores envolvidos em cursos de preparação para o parto. Esta investigação constitui-se também como ilustração de uma metodologia informada psicanaliticamente, capaz de estudar a mente fora da situação terapêutica e de operacionalizar teorias psicanalíticas que emergem nesse contexto.
- PortNE - Representações da negligência em Portugal: Contributos para uma abordagem preventiva da violência nos idososPublication . Jesus, Joana Raquel Correia de; Von Humboldt, SofiaO envelhecimento populacional é um fenómeno global que requer respostas eficazes para assegurar o bem-estar e a segurança das pessoas idosas. Dos múltiplos desafios associados a esta realidade, a negligência nos idosos destaca-se como um tipo de violência de difícil identificação, comprometendo a qualidade de vida desta população. Esta problemática tem raízes multifatoriais, incluindo fatores individuais, relacionais, comunitários e sociais, que interagem de forma complexa ao longo do ciclo de vida. A compreensão destes fatores é fundamental para a implementação de estratégias de intervenção preventivas e eficazes. O projeto PortNE teve como objetivo principal analisar a violência por negligência em idosos em Portugal, explorando os fatores psicossociais associados e as representações sociais deste fenómeno. Com um desenho metodológico misto, esta investigação foi desenvolvida em duas fases: uma quantitativa e outra qualitativa. Na primeira fase, a quantitativa (capítulos 3 e 4), foram realizadas análises com uma amostra de 1101 idosos portugueses, com o intuito de estudar a vulnerabilidade à violência e aos indicadores de exposição à negligência, bem como o impacto de variáveis ecológicas associadas, como resiliência, solidão, suporte social, sentido de comunidade e idadísmo. Os resultados revelaram que aproximadamente 27% dos participantes apresentavam sinais de vulnerabilidade à violência. Para além disso, fatores como baixo suporte social e baixa perceção de sentido de comunidade demonstraram estar significativamente associadas aos indicadores de exposição à negligência. Na segunda fase, a qualitativa (capítulo 5), foram conduzidas entrevistas com 52 idosos com o propósito de aprofundar a compreensão das perceções sobre a negligência nos idosos. A análise temática identificou fatores etiológicos proximais, tais como dinâmicas familiares e dificuldades económicas, mas também identificou fatores distais, isto é, a sobrecarga emocional dos cuidadores e a desvalorização social dos idosos. As medidas preventivas identificadas nesta fase incluem estratégias ativas, como o fortalecimento da autonomia dos idosos, e estratégias passivas, como a capacitação de cuidadores e campanhas de sensibilização para o idadísmo. Os resultados demonstram que a negligência nos idosos resulta da interação de diversos fatores, destacando-se a influência negativa da solidão, do idadísmo e da falta de suporte social. Adicionalmente, verificou-se que idosos com maior resiliência apresentavam menor perceção de exposição à negligência, sugerindo que esta competência pode desempenhar um papel de fator protetor. A nível prático, estes resultados salientam a necessidade de implementar programas comunitários de inclusão social e políticas de apoio ao cuidador informal.
- Relação conjugal ao longo do ciclo de vida: satisfação, comunicação, motivação, coesão e adaptabilidadePublication . Afonso, José de Abreu; Leal, Isabel PereiraO estudo das relações conjugais tem mostrado que sujeitos casados são, regra geral, mais saudáveis e felizes (Gottman, 1994, Orbuch & Custer, 1995, Vanassche, Swicegood, & Matthijs, 2013). No entanto, a maior parte das uniões terminam em divórcio, principalmente devido a níveis baixos de satisfação. Os terapeutas familiares compreenderam que é essencial contextualizar as crises conjugais no seu ciclo vital, caracterizado por diferentes autores (Carter & McGoldric, 1982, Neighbourgh, 1985, Relvas, 2004), percebendo também que as fases de transição são as de maior vulnerabilidade (Haley, 1984). Por outro lado, a investigação sobre conjugalidade tem demonstrado que o género é uma variável incontornável quando se quer compreender a dinâmica das relações amorosas. A partir do estudo de casais que superam saudavelmente os períodos de crise que marcam a transição entre as etapas da vida conjugal pretende-se perceber os factores que funcionam como promotores dessa resiliência bem como os de maior fragilidade. Assim, em casais que apresentavam elevados índices de Satisfação Conjugal (amor e funcionamento), fomos estudar as características da relação, a sua Coesão e Adaptabilidade, a Comunicação dos afectos e das divergências, bem como a Motivação para a conjugalidade. Realizou-se um estudo transversal, comparativo e correlacional, adaptando e validando instrumentos, e conduzindo cinco estudos empíricos. As amostras cujos participantes, deram o consentimento informado, variaram entre os 436 e os 464 (nos artigos de validação), e os 370 (nos artigos empíricos). Os resultados, por género, mostram uma variação semelhante da Satisfação Global, padrões Comunicacionais e padrões de Coesão e Adaptabilidade conjugal. Os resultados mostram que a dimensão Amor exerce uma influência maior que a do Funcionamento na Satisfação Global dos casais. Ao longo do casamento, na dimensão Amor, as mulheres apresentam flutuações num maior número de áreas que os homens. Em todas os períodos as mulheres atribuem a satisfação mais a si próprias que aos seus parceiros. Na motivação, aumenta a motivação extrínseca dos homens, especialmente nos primeiros três estádios do casamento. Considerando o ciclo de vida, a Satisfação Global revela valores semelhantes entre géneros e mais elevados antes da parentalidade, sendo esta a única fase da vida onde as mulheres apresentam valores mais altos de satisfação que os homens. Há também um menor uso de estratégias de comunicação positiva nos casais com filhos. Considerando cada uma das sete etapas do ciclo conjugal, pelo menos em quatro, uma estratégia de comunicação ou gestão de conflito apresenta diferenças significativas entre homens e mulheres. Naquelas em que se verificam mudanças, as mulheres apresentam alterações a partir de fases mais precoces. A estratégia de comunicação nos casais impacta a sua satisfação e felicidade. Coesão e Adaptabilidade não apresentaram diferenças significativas. Casais em união de facto tendem a utilizar mais vezes estratégias que envolvem a expressão de afectos e emoções do que os casados. Não se verificam diferenças significativas entre o primeiro e o segundo casamento. Ao identificar a fase de vida com maior instabilidade e as diferenças de percepção da vida conjugal entre homens e mulheres, esta investigação pode dar pistas interessantes para o trabalho clínico com casais.