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- O descomprometimento moral na idade adulta: amostra forense e comunitáriaPublication . Mendes, Maria Inês Soares; Pereira, Miguel BastoO descomprometimento moral consiste num processo de reconstrução cognitiva, através do qual os indivíduos racionalizam e justificam os comportamentos antissociais. A literatura científica sugere que a criminalidade, assim como o descomprometimento moral, tende a diminuir à medida que o individuo atinge a idade adulta. Contudo as lacunas na literatura relativamente à manifestação e evolução do descomprometimento moral depois da adolescência impossibilitam compreender totalmente a sua influência no comportamento criminal. Nesse sentido, o presente estudo procura: 1) compreender se existem diferenças nos índices descomprometido moral na população forense e na população comunitária 2) averiguar se diferenças entre as duas populações persistem ao longo da idade adulta 3) perceber se a idade adulta interfere com o descomprometimento moral. A amostra foi constituída por 531 indivíduos do sexo masculino, 299 provenientes de Estabelecimentos Prisionais e 232 da comunidade. Os participantes foram divididos em três grupos etários: início da idade adulta, meia-idade e terceira idade. Os dados foram recolhidos através do preenchimento de um questionário sociodemográfico e da Civic Moral Disengagement Scale (CMD). Os resultados sugerem existirem diferenças significativas entre as duas populações ao nível do descomprometimento moral, contudo, indicam que em estádios mais tardios da vida adulta, as diferenças tendem a desaparecer. Este estudo contribuiu para compreender que o descomprometimento moral apresenta distintos níveis de gravidade ao longo da idade adulta, tanto na população comunitária como em indivíduos que apresentam envolvimento no sistema de justiça.
- “De onde vem esse medo?” Duas Narrativas de Mulheres Indígenas a partir do Mito AkarandekPublication . Ribeiro, Samara e Silva Amaral; Marques, Maria Emília da SilvaA psicanálise de Freud foi pioneira ao identificar semelhanças entre a estrutura dos mitos e dos sonhos e ao compreender ambas as produções como vias privilegiadas de acesso ao inconsciente. Entre os povos que valorizam estas narrativas, destacam-se as sociedades indígenas. Além de preservar os conhecimentos e a identidade destes povos, os mitos desempenham uma importante função simbólica de contenção e nomeação de angústias primitivas, regulação social e delimitação de representações psíquicas, contribuindo, assim, para o estabelecimento dos papéis desempenhados por seus atores sociais. À luz da perspetiva etnopsicanalítica, proposta por Georges Devereux, este estudo tem o objetivo de explorar as ressonâncias psíquicas e fantasmáticas suscitadas pelo mito “A Cabeça Voadora, Akarandek, a Cabeça-Voraz” no imaginário de mulheres indígenas. Para a realização deste estudo, entrevistaram-se duas mulheres de diferentes etnias indígenas do Brasil, a Kuaracy (35 anos) e a Jací (37 anos), pertencentes ao povo Kalapalo e Tikuna, respetivamente. Para alcançar a dimensão subjectiva das participantes, foi utilizado o método FANI (Free Association Narrative Interview). As entrevistas foram analisadas de acordo com esta metodologia e, dos grandes temas evocados, destacaram-se questões de cariz identitário e associações relacionadas com as representações do feminino. Ademais, constatou-se que, apesar das distintas vivências e cosmovisões, ambas as participantes evocaram a existência de uma representação ambivalente (potente e terrífica) do feminino, corroborando com a literatura (etno)psicanalítica. Destacaram-se ainda questões relacionadas ao inconsciente étnico, aos tabus/interditos estabelecidos por ambos os povos, aos ritos de passagem das meninas pré-púberes e as relações de parentesco, reguladas pelo princípio da exogamia.
- A Ideação suicida no enlutado: identificação da prevalência e evolução da ideação suicida no luto Pré e Pós-morte em cuidadores familiares de doentes acompanhados em cuidados paliativosPublication . Miranda, Victoria Franzi Secanechia; Coelho, Manuela Alexandra de MouraIntrodução: Há evidência de que a experiência de ser um cuidador familiar de um paciente acompanhado em cuidados paliativos é um grande stressor com consequências físicas, emocionais e psicológicas. Um dos sintomas relacionados ao luto experienciado antes da morte do paciente (Luto Antecipatório) e ao luto pós-morte, é a ideação suicida. Não há registros de estudos realizados sobre a comparação da ideação suicida do cuidador entre os momentos pré e pós-morte do paciente acompanhado em cuidados paliativos, sendo essencial mais estudos a explorar esta temática e possibilidades de suporte psicológico de caráter preventivo. Objetivo: Verificar a prevalência e evolução da ideação suicida nos cuidadores de pacientes acompanhados em cuidados paliativos entre os momentos pré e pós-morte, além de identificar em qual medida a Perturbação de Luto Prolongado, depressão, ansiedade, somatização e a sobrecarga do cuidador impactam na ideação suicida. Método: Foi realizado um estudo coorte, de desenho longitudinal prospectivo com avaliação na fase pré-morte (T1) e follow-up 6-12 meses após a morte (T2) numa amostra de 155 cuidadores com a aplicação dos instrumentos: Zarit Burden Interview, Sub-escalas de Depressão e Ansiedade e Somatização do BSI (Brief Symptom Inventory-18), PG-13 (Prolonged Grief Disorder Questionnaire) e PG-12 (Prolonged Grief Disorder Questionnaire-Pre-Death). Resultados: Participantes em T1 (n=155) foram majoritariamente mulheres portuguesas de etnia caucasiana, casadas e filhas do paciente em cuidados paliativos, com média de idade de 51,77 anos (DP=12,42). Em T2, a amostra contou com 73 participantes. A prevalência da ideação manteve-se em T2 da mesma forma que em T1 para os ideadores (66,6%) e não ideadores (86%). A evolução da ideação suicida manteve-se igual na maior parte dos níveis estudados (86% “nunca”, 71,4% “algumas vezes” e 50% “muitas vezes”). A depressão teve um impacto significativo e positivo na ideação suicida em T1 (p<.001;B=.781) e em T2 (p<.001;B=.638). Os scores dos questionários sobre a PLP obtiveram diferenças significativas entre os grupos no PG-12 (p<.05) e no PG-13 (p<.001) com scores maiores nos participantes com maior índice de ideação suicida. Discussão: Estes resultados contribuem para uma melhor identificação e rastreio da ideação suicida em cuidadores familiares, permitindo um tratamento precoce a fim de evitar maior sofrimento desta população.
- Processo Migrante e Adolescente: Narrativas de dois jovens Cabo Verdianos sobre a escola em PortugalPublication . Figueiredo, Isabela da Silva; Marques, Maria Emília da SilvaCom um olhar sobre o percurso da clínica Etnopsicanalítica, procurou-se entender as particularidades do sujeito psíquico lançado no (seu) mundo, aquando da tarefa de transitoriedade. A passagem do país de origem para o país migrante, apresenta-se como uma experiência marcada pela rutura do vivido e do conhecido, para uma forma de viver nova e desconhecida. Este processo, como explica os pressupostos da teoria etnopsicanalítica, é marcado pela vulnerabilidade psíquica, em que sujeito migrante tenta re(construir) a sua identidade e integrar a sua história. Através do Método das Narrativas de Associação Livre (FANI) (Holloway & Jefferson, 2000), acedeu-se ao universo inconsciente e subjetivo do sujeito para se compreender como é ter vindo daquele Lugar para frequentar este (neste caso a escola portuguesa). Foram feitas duas entrevistas com dois jovens Cabo Verdianos: Afonso de 13 anos e Stefani de 14, as quais foram, posteriormente, analisadas através do método FANI. Como tal, emergiram dois temas: a identidade migrante e adolescente e a filiação/ afiliação, evidenciando traços comuns. Contudo, ainda que haja um pano de fundo comum, as suas vivências, principalmente as precoces, aparentam ser bastante distintas, contribuindo para formas diferentes da (re)construção identitária tanto migrante, como adolescente. Refere-se ainda, aspetos negativos comuns da vivência escolar nestes jovens como fantasmas, consequentes do outrora passado colonialista.
- A importância da tradição O Peso da Transmissão Transgeracional na Formação da Identidade ChinesaPublication . Leong, Valéria Alves; Marques, Maria Emília da SilvaAo nível transgeracional, o indivíduo constrói a sua identidade e mecanismos psíquicos adjacentes, tendo por base o que lhe é transmitido, (in)conscientemente, de uma geração para a outra. Por isso, é que a dinâmica e a relação intersubjetiva entre pais e filhos são de extrema relevância, sempre considerando o contexto transcultural. Assim, o objetivo desde estudo é compreender os processos da construção identitária de mulheres chinesas da mesma família: Mei (71 anos), Beatriz (42 anos) e Gabriela (14 anos), explorando o impacto destes processos na transmissão transgeracional. Para tal, as três participantes foram entrevistas, utilizando o método FANI (Free Association Narrative Interview) de Hollway W. e Jefferson T. (2000) que permite aceder à subjetividade das entrevistadas, adotando uma postura aberta, libertando-nos de possíveis antecipações e sustentando uma conduta etnopsicanalítica. Após a análise das entrevistas, emergiram três grandes temas, a Identidade: observando-se uma mudança de Beatriz para Gabriela, na identificação com a identidade chinesa; o Feminino e o Masculino: onde a transmissão de conteúdos e significados de mãe para filha, fortalece o sentimento de continuidade e linhagem geracional, fundamentalmente através do que é atribuído à função materna e ao feminino; e finalmente: o Sentimento de Pertença, que se manifestou de forma distinta nas três – Para Mei, através das Questões Filiativas, para Beatriz, através do Destaque, e em Gabriela, pela Descoberta do Lugar de Pertença. Foi possível observar que, a transmissão transgeracional assegura saberes, crenças e valores, providenciando uma continuidade cultural e grupal, por exemplo, a partir da tradição (Correa, 2003).