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Ciúme sexual: Percursos de um delírio de infidelidade

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O ciúme sexual apresenta-se como inevitável, já que radica primordialmente em acontecimentos infantis associados ao conflito edipiano. Na idade adulta, o sujeito repete com o parceiro amoroso a relação que teve com o objecto parental de amor e que o faz re-viver o sentimento de abandono, de traição, de frustração, de insegurança; por outro lado, repete com o rival a relação que viveu com o objecto parental rival e que o leva a re-sentir a raiva, o ódio, a vergonha, a inveja, a culpa, a humilhação, a ferida narcísica. A experiência emocional do ciúme expressa o medo de perder o objecto de amor/o amor do objecto e a imensa fonte de satisfação a ele associada. Vivê-la de forma exacerbada constitui sinal de patologia; desconhecê-la é sintoma de imaturidade afectiva. O ciúme competitivo ou normal surge como reacção à ameaça a uma relação afectivo-erótica que se valoriza, ou à qualidade dessa relação, ameaça essa representada pela intrusão do rival e apresenta-se como transitório, específico e ancorado em factos reais. O ciúme patológico ou mórbido é produto dum medo desmesurado de perder o objecto para um rival, duma desconfiança excessiva e da suspeita infundada e decorre duma preocupação não fundamentada, absurda e emancipada do contexto da realidade objectiva. Na etiopatogénese do ciúme encontra-se a falha falonarcisica, o mesmo é dizer, uma identidade de género ou imagem sexuada frágil. Sentindo-se sem suficiente valor sexual, muitas vezes o sujeito ciumento tenta compensar essa auto-desvalorização através da conquista de um objecto valioso, designadamente do ponto de vista erótico, o que vai potencializar a ansiedade narcísea, expressa na atitude hiper-vigilante contra a ameaça de perda do objecto investido a favor dum rival e no esforço para preservar a posse e precaver a ridicularização decorrente da eventual desapropriação e consequente degradação da sua imagem social. O ciúme patológico actua como defesa contra a culpa ou o impulso para a infidelidade - ciúme projectado — e, para além disso, contra o impulso para a homossexualidade - ciúme delirante -. O ciumento suspeita, enquanto o delirante de infidelidade "sabe" que é traído. O delirante de ciúme não é ciumento, porque a desconfiança e a suspeita inerentes ao ciúme deram lugar à certeza subjectiva, à "evidência"; reconhece-se vítima de enganos e de infidelidades que considera reais. Este paranóico, lê com clareza as intenções do comportamento dos outros, sabe qual é o significado de cada conduta, de cada gesto: significam o que ele os faz significar, o que quer que signifiquem. Para além de mandar nas suas próprias significações, ele manda também nas significações dos outros; Estes não se comportam com a intenção que dizem, mas com a que ele descortina. No plano inconsciente, o paranóico ensaia a solução "homossexual" repetindo com o rival a relação que queria ter tido com o rival da relação anaclítica, numa tentativa desesperada de se libertar da relação objectai narcísica que o funde ao parceiro amoroso, com o qual repete a relação simbiótica oral-narcísica que teve com o objecto anaclítico. A possibilidade de evolução para o delírio representa a última defesa contra a falha falonarcísica: não é o sujeito ciumento que é impotente para conservar o objecto amoroso, é o rival que se aproveita da ingenuidade ou da perversidade do objecto para ambos conspirarem na sua humilhação. Para apoiar a nossa reflexão, elegemos o filme L'Enfer porque ele fornece um material de estudo singular, uma vez que, ao invés do que sucede na prática clínica: Em L'Enfer o paciente não surge com o delírio de infidelidade já instalado, antes assiste-se à construção progressiva e insidiosa da ideação delirante e a todo o cortejo de alucinações e comportamentos que a mesma condiciona até à rendição absoluta à lógica do delírio, que tem como corolário a descompensação psicótica; A patologia da personagem masculina evolui de ciúme patológico para delírio de infidelidade, de forma "livre", isto é, sem a transformação que haveria de ser promovida pela relação psicoterapêutica nem a alteração que poderia ter sido induzida por terapêutica psicofarmacológica, se nalgum momento do processo de degradação psíquica, o ciumento tivesse recorrido a ajuda psicológica e/ou médica. Porque proporcionam a análise da derrocada progressiva do aparelho psíquico do sujeito, casos como este permitem a formulação de hipóteses terapêuticas relevantes para tomar a prática clínica mais efectiva. Traduzindo a falência do processo de separação-individuação, a estrutura borderline constitui um factor predisponente para o ciúme patológico, na medida em que aprisiona o sujeito à relação infantil dual e exclusiva, fechada sobre si própria e sobre o mundo e consequentemente lhe obstaculiza a triangulação dos afectos. Sabendo que um factor patogénico reforçador da simbiose consiste na indisponibilidade afectiva, demissão ou ausência do pai e que a saída da anaclise se faz mediante o investimento no segundo objecto - o pai -, importará investigar se as famílias monoparentais, designadamente as constituídas em torno da figura da mãe, poderão representar um risco acrescido para o desenvolvimento de personalidades anaclíticas com predisposição para o ciúme patológico.

Description

Dissertação de mestrado em Psicopatologia e Psicologia Clínica

Keywords

Ciúme Sexualidade Psicopatologia Psicologia clínica Infidelidade Narrativas Jealousy Sexuality Psychopathology Clinical psychology Narratives

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Publisher

Instituto Superior de Psicologia Aplicada

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