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Authors
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Abstract(s)
A avaliação do desenlace de determinada situação, por nós experienciada ou
observada, é realizada, boa parte das vezes, com base em alternativas imaginadas para a
mesma, alternativas que concorrem para um outro remate final e que podem consistir em
eliminar, substituir ou distorcer os seus antecedentes temporais ou causais (e.g., Nario-
Redmond & Branscombe, 1996; Roese & Olson, 1993; Wells & Gavanski, 1989).
Estas simulações mentais são designadas, na literatura, de pensamentos contrafactuais
e decorrem da nossa propensão para gerar, espontaneamente, vários mundos possíveis nos
quais os eventos se configuram com um desfecho diferente, principalmente, ainda que não só,
quando esses eventos nos são adversos, provocando-nos, nomeadamente, reacções afectivas
negativas (e.g., Kahneman & Miller, 1986; Miller, Turnbull, & McFarland, 1990).
Desde o trabalho basilar de Kahneman e Tversky (1982a) que múltiplos estudos se
têm desenvolvido, debruçando-se, em particular, sobre três vertentes distintas: As leis que
governam esta forma de proceder à reversão do passado, as suas consequências e funções e a
sua relação com a atribuição causal.
Quanto à primeira, tem sido possível concluir que existem constrangimentos ao nível
do pensamento contrafactual, ou seja, que o mesmo é regido por regras, as quais determinam
a maior ou menor mutabilidade de uns antecedentes relativamente a outros.
No que respeita à segunda, verifica-se que o processo referido não é psicologicamente
inócuo pois, uma vez activado, afecta um vasto leque de julgamentos e sentimentos, servindo,
paralelamente, várias funções (e.g., Galinsky et al., 2005; Johnson & Sherman, 1990; Kray et
al., 2010; McMullen, Markman, & Gavanski, 1995; Markman et al., 1995; Markman &
Tetlock, 2000; Markman & Weary, 1998; Roese, 1994; Roese & Olson, 1995a; Sanna, 1996;
Sanna & Turley-Ames, 2000; Sherman & McConnell, 1995). À abordagem funcional do
pensamento contrafactual veio juntar-se a asserção, e posterior comprovação empírica, de que
este poderia ser nefasto para alguns sujeitos, nomeadamente para aqueles que se encontrassem
deprimidos, como é o caso das vítimas de violação (e.g., Markman, Karadogan, Lindberg, &
Zell, 2009; Markman & Miller, 2006; Markman & Weary, 1996; Quelhas, Power, Juhos, &
Senos, 2008; Sherman & McConnell, 1995; Tykocinski & Steinberg, 2005).
Por fim, os estudos dedicados à sua relação com o processo de atribuição causal têm
defendido posições díspares, compondo uma controvérsia ainda persistente (para uma revisão
da literatura e proposta de um modelo de integração ver, e.g., Senos, 2008)
Na presente dissertação analisámos o pensamento contrafactual acerca da violação e a
percepção deste crime, versando sobre as três vertentes enunciadas, com o objectivo de
produzir um conhecimento mais aprofundado acerca do mesmo.
Paralelamente, inspirados nos trabalhos de Byrne (2005) e de Mandel e Lehman
(1996), estudámos o grau de mutabilidade dos comportamentos proibidos da vítima em
termos do não cumprimento de normas de segurança, explorando, desta forma, uma variável
escassamente abordada, a qual designámos de Factor prevenção.
Foram realizados treze estudos, maioritariamente de natureza experimental e com
recurso a cenários, agrupados em cinco séries de acordo com a lógica e propósitos
subjacentes.
Os resultados evidenciaram uma tendência preponderante e consistente para a
focalização em comportamentos da vítima, mesmo perante outros antecedentes disponíveis.
Estes são discutidos em termos da funcionalidade do pensamento contrafactual junto de
observadores e de vítimas de violação, e das potenciais consequências daí decorrentes,
nomeadamente no que respeita a um discurso que pode configurar uma situação de heterovitimização
secundária e ao comprometimento do suporte social a ser prestado às mesmas. ----------- ABSTRACT ---------- The evaluation of the outcome of a given situation, experienced or observed by us, is
done majorly by imagining alternatives to it. This alternatives tend to promote a different
scenario and may consist in eliminating, substituting or distorting its' causal or temporal
antecedents (e.g., Nario-Redmond & Branscombe, 1996; Roese & Olson, 1993; Wells &
Gavanski, 1989).
These mental simulations, designated, by the literature, as counterfactual thoughts
emerge from our tendency to generate, spontaneously, several possible worlds in which
events may conduct to different outcomes, especially when factual events are negative or
adverse, inducing negative affective reactions (e.g., Kahneman & Miller, 1986; Miller,
Turnbull, & McFarland, 1990).
Since the seminal work of Kahneman and Tversky (1982a), several studies have been
developed, focusing, particularly, on three different issues: The laws that govern this form of
reversal of past events, their consequences and functions, and its relation with causal
attribution.
In a first place, it has been possible to conclude that there are some constraints to
counterfactual thinking, that is, there are some rules that determine the level of mutability of
the various antecedents of an event.
The second plane of thought has stated that the referred process is not psychologically
neutral given that once activated it affects a vast spectrum of judgements and feelings and
serve several functions (e.g., Galinsky et al., 2005; Johnson & Sherman, 1990; Kray et al.,
2010; McMullen, Markman, & Gavanski, 1995; Markman et al., 1995; Markman & Tetlock,
2000; Markman & Weary, 1998; Roese, 1994; Roese & Olson, 1995a; Sanna, 1996; Sanna &
Turley-Ames, 2000; Sherman & McConnell, 1995). To the predominant functional approach
to counterfactual thinking joins the empirical observed assertion that this kind of mental
product could also carry severe disadvantages to subjects, namely to depressed people, as is
the case of rape victims (e.g., Markman, Karadogan, Lindberg, & Zell, 2009; Markman &
Miller, 2006; Markman & Weary, 1996; Quelhas, Power, Juhos, & Senos, 2008; Sherman &
McConnell, 1995; Tykocinski & Steinberg, 2005).
Finally, the works about the relationship between counterfactual thought and the
process of causal attribution have produced antagonistic results, resulting in a controversial
debate until today (for an updated literature revision and an integrative model see, e.g., Senos,
2008).
Within this thesis we set ourselves to analyse counterfactual thought about rape and
the perception of this crime, anchoring on this three lines of investigation, in attempt to
produce a more profound knowledge about this scientific field. Also, based on the work of
Byrne (2005) and on that of Mandel and Lehman (1996), we studied the level of mutability of
the forbidden behaviours of the victim in the sense that do not respect security norms. Thus,
we explore a still little studied variable that we designated by Factor of preventability.
We have conducted thirteen studies, primarily of experimental nature and using
scenarios, grouped in five series according with their logic and objectives.
Results showed a preponderant and consistent tendency for participants to focalize on
victim’s behaviours, even when in the presence of another antecedents. We discuss them in
terms of the functionality of counterfactual thinking for observers and rape victims, and in
terms of its potential consequences, namely in respect to a discourse that may be traduced in a
secondary hetero-victimization and in respect to the probable failure of social support to be
provided to these women.
Description
Tese submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Doutoramento em Psicologia Área de especialidade de Psicologia Social
Tese apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em Psicologia na área de especialização de Psicologia Social, no ISPA – Instituto Universitário, no ano de 2011, ao abrigo do Artigo 33.º do Decreto-Lei n.º74/2006 de 24 de Março.
Tese apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em Psicologia na área de especialização de Psicologia Social, no ISPA – Instituto Universitário, no ano de 2011, ao abrigo do Artigo 33.º do Decreto-Lei n.º74/2006 de 24 de Março.
Keywords
Psicologia social Pensamento contrafactual Percepção da violação Disfunções do pensamento contrafactual Vitimização secundária Social psychology Counterfactual thinking Rape perception Counterfactual dysfunctions, Secondary victimization
Citation
Publisher
ISPA - Instituto Universitário das Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida