PCLI - Tese de doutoramento
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Browsing PCLI - Tese de doutoramento by Field of Science and Technology (FOS) "Ciências Sociais"
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- A ansiedade infantil : vulnerabilidades da criança e influência dos paisPublication . Dias, Filomena Valadão; Leal, Isabel Pereira; Maroco, JoãoObjetivo: Investigar a ansiedade infantil considerando a influência das seguintes variáveis: cognições das crianças e atribuições dos pais, relativas a estímulos ambíguos; medos e ansiedade dos pais. Disponibilizar instrumentos de medida da ansiedade das crianças e dos medos dos adultos, oriundos de populações comunitárias. Método: Procedeu-se à análise e avaliação das qualidades psicométricas das escalas: SCARED-R (n = 1238, idade 10-13); FSS III (n = 1980, idade 18-80). Foi realizada a análise confirmatória das duas escalas. Estas foram sujeitas a adaptações para a população do estudo e foi proposto um fator de 2ª ordem para cada instrumento. Foram realizadas 274 entrevistas, com 719 participantes (274/crianças/274mães/171pais) e preenchidos três instrumentos (SCARED-R; FSS III; STAI). Foram anotadas as respostas verbalizadas pelos participantes às questões colocadas, relativas ao instrumento Nine Ambiguous Stories. Realizou-se uma análise de conteúdo às respostas e procedeu-se à sua categorização. A fiabilidade da análise de conteúdo foi avaliada pelo nível de concordância entre os três avaliadores. As análises dos dados quantitativos foram realizadas com recurso a testes do Qui-Quadrado e t-Student; Correlação de Pearson; e, Modelos de Equações Estruturais. As análises estatísticas foram desenvolvidas com o IBM SPSS Statistics; IBM AMOS e MPlus. Resultados: A análise fatorial confirmatória confirmou a validade e fiabilidade das medidas obtidas da SCARED-R e da FSS-III na amostra do estudo. A codificação das respostas verbais das crianças apresentou 6633 unidades de registo, sendo 2570 positivas, 4063 negativas e 32 neutras. A exploração dos conteúdos originou 76 subcategorias. As positivas (25) englobaram conteúdos de interesse, confiança e segurança da criança perante as situações e conteúdos de emoção expressa. As negativas (32) juntaram conteúdos de emoção expressa, conteúdos de dificuldade, inibição, incapacidade, de danos físicos e materiais. Os pensamentos positivos das crianças e os medos das mães são preditivos da menor ansiedade das crianças. Os pensamentos negativos das crianças, os medos dos pais (homens) e ansiedade das mães são variáveis preditivas de maior ansiedade nas crianças. Os pensamentos positivos das crianças e as atribuições positivas das mães apresentaram uma relação positiva significativa. Conclusões: Esta investigação validou dois instrumentos de medida (da ansiedade e dos medos) a aplicar na promoção da saúde. Foi sugerida a reinterpretação e reavaliação dos conceitos de medos e ansiedade em populações normativas. O recurso à investigação destas populações e à perspetiva da criança permitiu concluir: os pensamentos positivos e negativos são características cognitivas do desenvolvimento normal das crianças com 10-11 anos; e, a expressão da emoção nos pensamentos deve ser considerada na investigação e intervenção. As características e perceções da criança sobre o seu funcionamento sugeriram crenças protetoras e crenças preditivas de níveis perturbados da ansiedade. A ansiedade e os medos dos pais devem ser analisados separadamente pois apresentam influências distintas na explicação da ansiedade das crianças. A correlação positiva das atribuições maternas e os pensamentos positivos das crianças, aliado à contribuição dos medos das mães para a redução da ansiedade da criança, sugeriu a existência de um mecanismo protetor materno ao desenvolvimento de níveis patológicos da ansiedade infantil.
- Apoio entre pares e mediação intercultural - Uma leitura psicanalítica das reorganizações identitárias com migrantes marcados pela experiência de deslocamento forçado por conflitos armadosPublication . Duarte, Mariana Bassoi; Marques, Maria EmíliaA presente proposta de investigação para o Programa de Doutoramento em Psicologia Clínica tem como objetivo principal explorar e discutir a prática de intervenção Peer Support/Apoio entre Pares e os processos intersubjetivos com migrantes marcados pela experiência de deslocamento forçado consequentes de conflitos armados, e seus efeitos nas identidades. Para tal pretende-se analisar, a partir dos conceitos da psicanálise e da etnopsicanálise, o dispositivo Peer Support ou Apoio entre Pares e perceber como é que os elementos compartilhados entre os pares se integram na próprias identidades dos sujeitos que vivenciam transformações sociais, psíquicas e físicas. Este dispositivo pretende privilegiar o cuidado centrado no paciente em contextos de guerra e/ou conflito. Com esse propósito, propõe-se como metodologia um estudo longitudinal qualitativo que utiliza o instrumento FANI – Free Association Narrative Interviewpara a recolha e análise de dados. Este instrumento permite aceder a processos de intersubjetividade priorizando a observação e análise do conteúdo trazido pelo próprio participante, ao invés de um tema pré estabelecido pelo investigador. A recolha de dados foi feita a partir de entrevistas com os participantes e coordenadores dos grupos Peer Support. Os participantes na investigação são migrantes marcados por experiências de deslocamento forçado no decorrer de conflitos armados, guerras ou ocupação militar, alguns apresentam trauma físico e/ou queimadura no corpo decorrentes dos ambientes de conflito e ocupação. A análise dos dados pretende convocar reflexões da prática clínica vinculada a contextos transculturais em articulação com a psicanálise, política e cultura. A partir da análise das entrevistas emergiram cinco grandes temas para a discussão dos resultados: Identidades Roubadas; Cronologia e Trauma: sintoma ou criação?; Tornando-se um Peer: deparar-se com sua própria história, criar pontes e se reabitar; O Apoio entre Pares e o re-enlace social: os (des)encontros e suas (im)possibilidades; O Apoio entre Pares: potencialidades e desafios. Como resultado da investigação, o Apoio entre Pares pode ser compreendido como um recurso terapêutico, funcionando como um instrumento de acolhimento para o sofrimento psíquico, moldado pelas influências culturais e sociais. O Peer Support surge como uma intervenção possível, facilitada pela via da identificação. Os aspectos identificatórios são a base desse encontro e, ao longo do processo, podem gerar efeitos em ambas as partes envolvidas, remodelando subjetividades nesse processo de transformação. As pontes estabelecidas pela linguagem e escrita, dirigidas ao outro como testemunho de histórias pessoais e coletivas, possuem um valor rehumanizador, atuando como suturas que amenizam as fraturas cronológicas. Novos aspectos identificatórios são incorporados a partir do encontro com o outro, enriquecendo a experiência e o vínculo estabelecido.
- Da sobrevivência física à sobrevivência mental : aspectos do funcionamento psíquico em ex-combatentes da guerra colonial portuguesaPublication . Ferrajão, Paulo; Marques, Maria Emília; Oliveira, Rui Aragão GomesEnquadramento: A traumatização de guerra associada à perpetração e/ou testemunho de violência e os processos associados à recuperação da Perturbação de Stresse Pós-Traumático (PSPT) em ex-combatentes, são dois temas que têm merecido pouca atenção por parte da investigação científica. O impacto das consequências psicossociais da experiência de guerra na identidade dos indivíduos e a relação dessas variáveis com os processos internos e nas relações com os outros são dois temas considerados relevantes nestes processos, embora ainda pouco estudados. Objectivos: A presente Dissertação teve como propósito produzir alguma evidência acerca dos tópicos referidos. Com estes estudos pretendemos explorar a experiência do processo de traumatização de guerra, os factores que influenciam as mudanças na identidade dos ex-combatentes, e as estratégias mentais utilizadas no coping das consequências da traumatização. Outro objectivo foi a investigação preliminar de potenciais relações entre variáveis como a função reflexiva, a reparação moral, percepção de suporte social, e o dano moral nos níveis de PSPT e Depressão. Método: Para atingir os objectivos deste estudo, delineamos três investigações independentes. No Estudo 1, a amostra era constituída por 120 ex-combatentes da Guerra Colonial Portuguesa (GCP) que recebiam tratamento clínico. Foi efectuado um estudo correlacional onde analisámos o efeito da exposição ao combate, o testemunho e a prática de violência abusiva, e do senso de coerência no desenvolvimento da PSPT e Depressão. Foram efectuadas análises de regressão logística binomial independentes e análises de regressão. No Estudo 2, a amostra era constituída por 60 ex-combatentes da GCP: um grupo com PSPT crónica (n=30) e um grupo com remissão da PSPT (n=30). A exploração das experiências traumáticas e dos factores atribuídos à restauração da resiliência foram recolhidas através duma metodologia qualitativa, com recurso a entrevistas semi-estruturadas realizadas individualmente a cada participante. No Estudo 3, a amostra era idêntica à do estudo anterior, tendo sido efectuado um estudo correlacional com delineamento de métodos mistos. A análise do conteúdo das entrevistas para ambos os estudos foi realizada com base no método de codificação categorial não indutivo de Bardin. Os níveis da PSPT e Depressão foram avaliados, respectivamente, através do Impact of Event Scale - Revised e do Brief Symptom Inventory. Resultados: Os resultados do Estudo 1 revelaram que a participação e o testemunho de violência abusiva, e níveis mais reduzidos de senso de coerência associavam-se a probabilidades mais elevadas de exceder o ponto de corte para o diagnóstico de Depressão. Todas as variáveis associavam-se a probabilidades mais elevadas de exceder o ponto de corte para diagnóstico da PSPT. O senso de coerência era uma variável mediadora do efeito da exposição ao combate e do testemunho de violência abusiva nos níveis de PSPT e Depressão. No Estudo 2, foram identificados seis temas atribuídos à recuperação ou manutenção da perturbação: stressores de guerra, acontecimentos de vida stressores, estratégias mentais e de coping, auto-integração de experiências morais incongruentes nos esquemas pessoais, auto-compreensão dos estados mentais, e suporte social percebido. Estes temas suportaram um modelo compreensivo do processo de recuperação da traumatização de guerra, com base na reconciliação das experiências moralmente discrepantes nos esquemas do Self, e desenvolvimento de maior compreensão dos estados mentais do Self. No Estudo 3, a compreensão dos estados mentais e a integração de experiências de dano moral nos ix esquemas pessoais eram variáveis preditoras dos níveis da PSPT e Depressão, enquanto o nível de exposição ao combate era preditor do nível da PSPT. Conclusões: A traumatização de guerra parece constituir um processo de confronto cumulativo com acontecimentos disruptivos e stressores não traumáticos na guerra, e com as consequências biopsicossociais da experiência no pós-guerra. A reconciliação das representações associadas à traumatização no sistema de representações globais do Self e a função reflexiva surgiram como duas variáveis chave no processo de restauração da resiliência, apresentando um efeito transformador na restauração da coerência do Self dos indivíduos. A restauração de capacidades de resiliência associa-se à posse, ou restauração, de recursos intrapsíquicos e a mobilização de recursos ambientais. A associação verificada entre a função reflexiva e a reconciliação das representações associadas à traumatização no sistema de representações globais do Self com os níveis de PSPT e Depressão sugerem que a reorganização da estrutura psíquica e dos padrões interpessoais formam uma complexa matriz intrapsíquica subjacente às mudanças dos sintomas.
