Biologia do Comportamento
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Browsing Biologia do Comportamento by Field of Science and Technology (FOS) "Ciências Naturais"
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- Contributos para o estudo da boga-portuguesa, iberochondrostoma lusitanicum collares-pereira, 1980: ecologia, reprodução e caracterização molecularPublication . Lima, Cristina Maria da Silva Conceição Branco de; Robalo, Joana Isabel Espírito-SantoNas últimas décadas as ameaças à biodiversidade têm sido cada vez mais numerosas, nomeadamente para os especialmente sensíveis ecossistemas de água doce. Estes ambientes ocupam uma área relativamente reduzida do planeta, porém onde a perda de biodiversidade parece ser mais elevada do que em ambientes terrestres. A Península Ibérica (PI) constitui um sistema isolado do resto da Europa no que diz respeito a espécies aquáticas. Este isolamento resulta da evolução geomorfológica da região com o estabelecimento dos Pirenéus. O surgimento de formações geológicas complexas, a alteração de escoamento das suas bacias hidrográficas e fenómenos tectónicos condicionaram o curso dos rios e ribeiras e, consequentemente, das espécies que neles habitavam. Os peixes de água doce, sendo peixes primários, são intolerantes à salinidade e a única forma de dispersarem é através de contactos entre linhas de água. Como consequência, as suas histórias evolutivas estão inevitavelmente ligadas às das bacias hidrográficas. A PI é rica em endemismos, com cerca de 80% das espécies estritamente dulciaquícolas endémicas. O mesmo se observa nas águas continentais portuguesas com 10 endemismos lusitânicos registados. Um desses endemismos é a boga-portuguesa, Iberochondrostoma lusitanicum Collares-Pereira 1980, espécie com estatuto de ameaça IUCN Criticamente em Perigo. Habita rios e ribeiros pouco profundos do tipo mediterrâneo nas bacias do Tejo, Sado e Ribeiras do Oeste tendo sido objecto de monitorizações em ambientes urbanos, particularmente, nas ribeiras da Lage, Barcarena, Rios Jamor, Lizandro e Ota. Estas monitorizações mostram uma variabilidade na estrutura populacional entre os vários locais e anos amostrados. Em alguns dos locais foram detectadas espécies exóticas e invasoras e o ensombramento registado foi considerado razoável, embora não correspondente à complexidade da galeria ripícola. Uma das ameaças conhecidas para as espécies de água doce continentais portuguesas é a degradação dos habitats que, aliada ao reduzido efectivo, impõe a necessidade de medidas de conservação mais imediatas que incluem a reprodução ex situ. Para isso, foi criado um Projecto de conservação com uma vertente de restauro ambiental associada a reprodução em cativeiro em condições seminaturalistas. A reprodução nestas condições foi bem-sucedida, com uma elevada produção de descendentes subsequentemente libertados nos locais de origem dos reprodutores. De modo a perceber as características das fases iniciais de vida foi registado o desenvolvimento de ovos e larvas de I. lusitanicum de uma população do Sado reproduzida em cativeiro. As fases embrionária e larvar, no seu conjunto, são relativamente longas, o que deixa os indivíduos vulneráveis a perturbações e ameaças durante mais tempo. As diferentes populações de I. lusitanicum estão isoladas em cursos de água sem contacto e para esclarecer as suas relações filogeográficas, realizou-se uma análise molecular que confirmou existirem diferenças significativas entre dois grandes grupos: Tejo+Oeste e Sado, e a análise morfológica dos indivíduos foi concordante com as diferenças moleculares encontradas. Deste modo, sugere-se a separação da população Tejo+Oeste numa espécie diferente, Iberochondrostoma tagensis.
- Social buffering of fear in zebrafishPublication . Faustino, Ana Isabel Soares; Oliveira, Rui FilipeA ubiquidade da formação de grupos em animais tem sido explicada, entre outros aspectos, pelos seus benefícios na proteção contra predadores, nomeadamente devido ao aumento global do estado de vigilância, diluição do risco e capacidade de confundir o predador. Assim, os grupos sociais proporcionam um ambiente mais seguro na presença de ameaças, onde a presença de conspecíficos diminui o medo desencadeado por eventos aversivos que surjam no ambiente, um fenómeno designado por “social buffering”. Este fenómeno social tem sido verificado em mamíferos, onde já existe alguma evidência sobre os mecanismos neurais envolvidos, mas o seu estudo em outros vertebrados ainda é escasso. Por esta razão, são necessários mais estudos comparativos para melhor compreender a evolução do “social buffering” entre animais sociais e quão evolutivamente conservados são os mecanismos subjacentes a este comportamento social. Diferentes modalidades sensoriais (através de “cues”) podem promover este efeito de “buffering” e a eficácia de cada canal sensorial neste fenómeno comportamental pode variar entre espécies. Além disso, do que é sabido, a eficácia ao longo do tempo de diferentes “cues” sensoriais, bem como a eficiência de grupos sociais que divirjam no seu número de elementos, nunca foi testada no contexto de “social buffering”. Estas questões adquirem especial importância se considerarmos que exposições mais prolongadas a ameaças e grupos sociais maiores, influenciam as probabilidades de sobrevivência do indivíduo. Dada a sua posição filogenética, os peixes teleósteos permitem explorar o “social buffering” e os mecanismos envolvidos neste comportamento social, na radiação evolutiva de maior sucesso entre os vertebrados (paralela à dos tetrápodes). O peixe-zebra é uma espécie pertencente aos teleósteos que apresenta comportamentos de medo quando submetido a situações ameaçadoras em contextos de isolamento social, no entanto a ocorrência de “social buffering” nesta espécie permanece praticamente inexplorada. Nesta tese, investigámos a ocorrência de “social buffering” no peixe-zebra, submetendo peixes focais a um estímulo aversivo (substância de alarme) quer na presença ou ausência de “cues” sensoriais sociais. Numa primeira experiência, mostrámos que quando submetidos à substância de alarme na presença de “cues” sociais olfactivas (água do cardume) e visuais (visualização do cardume), os peixe-zebra apresentaram uma resposta de medo inferior do que quando submetidos à substância de alarme sozinhos (durante 30 minutos de exposição) revelando a ocorrência de “social buffering” continuado da resposta de medo. No entanto, análises ao cortisol ou RNA mensageiro da hormona libertadora de corticotrofina (CRF), dos receptores de glucocorticóides, e receptores de mineralocorticóides, não revelaram evidências de “buffering” da resposta de stress. Numa segunda experiência, testámos separadamente a eficácia de “cues” olfactivas e visuais no fenómeno de “social buffering”, e verificámos que a visualização do cardume de peixes-zebra se revelou a “cue” mais eficaz na diminuição da resposta de medo provocada pela substância de alarme, quando num cenário de exposição constante à ameaça (30 minutos). Numa terceira experiência, demonstrámos que este “buffering” social não depende do número de conspecíficos presentes no cardume, uma vez que cardumes mais pequenos se revelaram igualmente eficazes em diminuir a resposta de medo provocada pela substância de alarme. Finalmente, usando a expressão génica de um “immediate early gene” (c-fos) como indicador de atividade neuronal, verificámos que o fenómeno de “social buffering” em peixezebra desencadeia um padrão específico de co-activação de áreas cerebrais conhecidas pelo seu envolvimento em respostas de medo e “buffering” em mamíferos. Concluindo, o conjunto de estudos apresentados nesta tese sugerem uma origem evolutiva comum nos vertebrados para o comportamento de “social buffering”, providenciando novas perspectivas sobre os mecanismos comportamentais e neurais envolvidos neste comportamento social.
- White-faced storm petrels in the northeast atlantic: contributions to the knowledge of their behaviour, ecology and conservationPublication . Alho, Maria; Catry, PauloCompreender o comportamento alimentar e reprodutor dos painhos, o grupo mais pequeno dos Procelariiformes, é crucial para compreender a sua ecologia e eficaz conservação. Apesar da sua ampla distribuição, estas aves têm sido pouco estudadas devido a desafios como o seu tamanho pequeno, comportamento noturno e locais de reprodução remotos. Dispositivos de seguimento miniaturizados começaram a fornecer informações sobre a sua distribuição e comportamento no mar, mas ainda há muito a descobrir sobre a sua dieta, comportamento, movimentos, rotas de migração e áreas de invernada. Esta tese de doutoramento concentrou-se principalmente na recolha e resumo de dados existentes sobre o comportamento alimentar e reprodutor dos painhos. Focou-se especialmente no calca-mar Pelagodroma marina. O estudo inclui uma análise do comportamento da procura de alimento e preferências alimentares do calca-mar, uma investigação de uma colónia extinta e uma avaliação da utilidade potencial de ninhos artificiais como ferramenta de investigação durante a época de reprodução. A minha revisão resume o conhecimento existente sobre o comportamento alimentar e reprodutor dos painhos, destacando a escassez de investigação nesta área e sublinhando as numerosas questões ecológicas não respondidas sobre a maioria das espécies de painhos, indicando a necessidade de futuras investigações. Pela primeira vez, investiguei o comportamento de procura de alimento do calca-mar na ilha Selvagem Grande (NE Atlântico), utilizando dispositivos GPS de 1g ao longo de dois anos consecutivos, durante os períodos de incubação e criação de crias. Foi também analisado amostras de fezes das crias através de DNA metabarcoding para caracterizar a sua dieta e examinou-se os níveis de mercúrio nas penas do corpo das crias. Os calcamares partiram da colónia sem uma preferência clara de direção e com um uso predominante de águas oceânicas profundas. Durante a criação de crias, estas aves exibiram maior atividade noturna, alimentando-se principalmente de presas mesopelágicas, conforme refletido pela dieta e pelos seus níveis relativamente elevados de mercúrio nas penas. Esta tese apresenta as primeiras informações sobre as populações de aves marinhas extintas na ilha de Santa Luzia, em Cabo Verde. A presença abundante de subfósseis de aves marinhas sugere que a ilha foi um importante local de reprodução para três espécies x de Procelariiformes, especialmente para o calca-mar. A datação por radiocarbono sugere que a colónia tenha desaparecido no início do século XX, possivelmente devido à presença humana e de animais domésticos. No entanto, após a erradicação de gatos assilvestrados, a ilha possui potencial para a recuperação das colónias de aves marinhas, uma vez que as populações extintas eram muito maiores do que as atuais em Cabo Verde. Finalmente, explorei a eficácia de ninhos artificiais para o calca-mar, com o objetivo de melhorar o monitoramento de aves reprodutoras, facilitar estudos durante a época de reprodução e conservação a longo prazo para painhos que nidificam em cavidades. Ninhos artificiais instalados dentro de ninhos naturais pré-existentes mostraram elevadas taxas de ocupação (83% em dois anos) e maior sucesso reprodutivo em comparação com ninhos naturais. O sucesso de eclosão foi maior em ninhos artificiais (>70%) em comparação com ninhos naturais. Foi observado abandono de ovos em ambos os tipos de ninhos, e a predação por lagartixas da Madeira foi menor em ninhos artificiais, sugerindo que oferecem uma melhor proteção, especialmente até à eclosão. Esta tese apresenta novos dados sobre o comportamento e a ecologia do calca-mar, com potenciais implicações para entender o comportamento de outros painhos, destacando a importância de estudos a longo prazo e paleoecologia para ações de conservação.