PCLI - Tese de doutoramento
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Browsing PCLI - Tese de doutoramento by Author "Carneiro, Francis Anne Teplitzky"
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- Foi assim que aconteceu: A nossa família - as trajetórias resilientes das famílias constituídas por procriação medicamente assistida ou inseminação por dador face aos desafios inerentes à sua transição para a ParentalidadePublication . Carneiro, Francis Anne Teplitzky; Leal, Isabel Maria PereiraComo consequência de profundas mudanças socio-legais, demográficas e tecnocientíficas têm surgido as novas famílias (formadas através de PMA, constituídas por casais do mesmo género e constituídas por mães solteiras por escolha). Por serem configurações familiares que se afastam da estrutura tradicional nuclear, várias questões têm surgido relativamente às suas implicações para o ajustamento psicológico das crianças. Também muito pouco se sabe ainda sobre os constrangimentos e recursos específicos destas famílias durante a sua transição para a parentalidade, nomeadamente sobre o seu funcionamento familiar. Neste sentido foi desenvolvido um estudo transversal multi-métodos, inserido numa matriz clínicodesenvolvimental, denominado A NOSSA FAMÍLIA: FOI ASSIM QUE ACONTECEU. Este pretendeu avaliar o funcionamento familiar e os processos familiares das novas famílias ao nível da parentalidade e do ajustamento infantil. Os resultados principais revelaram que as crianças das novas famílias apresentam um ajustamento psicológico positivo comparativamente aos dados normativos de crianças da mesma faixa etária e aos dados das crianças de outras famílias, tais como a nuclear tradicional. Os resultados revelaram também que as novas famílias constituídas através de PMA ou inseminação por dador experienciam um Distressful Loop, composto por três fases, e que se repetiu durante meses ou anos até as famílias concretizarem a parentalidade. A primeira fase deste Loop representa o momento em que pais/mães aguardam ansiosamente pelos resultados médicos. A segunda fase representa as tentativas de PMA falhadas ou a perda gestacional e os consequentes sentimentos de desilusão, humor depressivo e luto. A terceira fase representa a recuperação psicológica e o reajuste das famílias face às consequências negativas das tentativas de PMA falhadas ou perdas gestacionais, até à sua decisão final de realizarem outra tentativa de PMA e entrarem novamente no Loop. Não obstante, as famílias apresentaram também importantes características e recursos durante todo o seu processo de PMA que as permitiram amenizar o impacto negativo do Distressful Loop e dos stressores associados à PMA, nomeadamente, otimismo e positividade, tenacidade e perseverança, fé e espiritualidade, comunicação, sincronização e coesão do casal e suporte social. Verificou-se também que as famílias constituídas por mães lésbicas/bissexuais navegaram por diferentes contextos legais durante a sua transição para a maternidade e consequentemente enfrentaram desafios e stressores diferentes, embora todas tem sentido a ausência de representação mental e social desta maternidade, inclusivamente nas suas famílias de origem. Não obstante, estas mães demonstraram ser capazes de transformar o impacto negativo dos stressores mencionados através de várias formas, tais como o aumento e manutenção da visibilidade da sua identidade minoritária e da sua família, participação no ativismo pelos direitos LGBTQ+, procura de suporte da comunidade LGBTQ+, ou pela revelação seletiva da sua família. Foram também muito ativas e persistentes na recuperação de conexões e suporte com os membros das suas famílias de origem. Este estudo destaca a importância de serem desenvolvidas intervenções psicoterapêuticas que tenham em conta as vicissitudes mencionadas relativamente às novas famílias, incluindo as suas vulnerabilidades e acentuado as suas forças e estratégias para que possam navegar pelas várias trajetórias da parentalidade de forma resiliente e saudável.