Cruz, Mónica Guimarães2011-04-022011-04-022007http://hdl.handle.net/10400.12/469Dissertação de Mestrado em EtologiaA função das interacções aloparentais em primatas não é bem entendida. A maioria dos estudos incidiu sobre espécies paleotropicais, existindo pouca informação para platirríneos, excepto para calitricídeos. O objectivo deste estudo foi descrever as interacções aloparentais e o comportamento materno num grupo cativo de macacos-capuchinho (Cebus apella). Foram realizadas amostragens focais de 30 minutos por semana por cada cria dos zero aos cinco meses de idade, e registadas as interacções entre as crias e os restantes elementos do grupo, incluindo a mãe, bem como as reacções desta ao handling das suas crias. Foi medida a duração do transporte materno e alomaterno das crias bem como a frequência com que as crias forram manuseadas por indivíduos que não a mãe, e testados os efeitos da idade da cria, do rank de dominância materno, do sexo/idade do carrier e da proximidade afiliativa entre o handier e a mãe. Foi medida a frequência das respostas maternas negativas ao handling das crias e testados os efeitos do rank materno e da classe sexo/idade do handler sobre esta variável. Os resultados obtidos estão de acordo com o descrito para a espécie por outros autores no que diz respeito à natureza do handling e à relação entre o investimento materno e aloparental. Assim, as interacções aloparentais foram em geral de natureza benigna e o transporte materno foi dominante em relação ao aloparental, especialmente nos primeiros três meses de vida das crias. Também o interesse de outros indivíduos nas crias foi maior para as crias mais jovens, e o rank materno não pareceu influenciar a atractividade das crias. Ao contrário do documentado por alguns autores para este género, e para cercopitecos, as fêmeas não foram os indivíduos que transportaram as crias por mais tempo, mas sim os machos juvenis. O extenso envolvimento desta classe de indivíduos no transporte de crias foi já descrito para capuchinhos, sendo este normalmente atribuído a um elevado grau de parentesco entre os handlers e as crias. Neste estudo as relações de parentesco não eram conhecidas, e por isso não foi possível testar esta hipótese. No que diz respeito às restantes hipóteses presentes na literatura, a hipótese do assédio não foi suportada devido à natureza positiva do handling, o que está de acordo com a natureza relativamente tolerante das relações entre adultos descrita para esta espécie. O facto de ter existido alguma relutância materna, especialmente por parte de fêmeas de baixo rank, em aceitar o handling das suas crias após aproximação do handler, poderá ser explicada pelo risco de infanticídio existente nesta espécie e pela maior vulnerabilidade das crias de mães subordinadas a um eventual abuso. A hipótese da atracção natal poderá explicar apenas o comportamento aloparental das fêmeas, tendo algumas das suas predições sido verificadas: as crias foram mais atractivas quando mais jovens, e o comportamento aloparental foi de natureza positiva. Esta hipótese não explica no entanto o comportamento aloparental dos machos juvenis. A hipótese learning-to-mother não foi suportada por estes dados, uma vez que a fêmea juvenil, juntamente com os machos adultos, foi dos indivíduos que realizou menos handling e transporte de crias. No entanto, o facto de ter existido apenas uma fêmea juvenil no grupo não permite a exclusão desta hipótese. Por não ter havido qualquer influência da proximidade espacial entre o handler e a mãe e o handling das crias, os padrões de afiliação entre a mãe e outros indivíduos antes do nascimento da cria não parecem explicar o padrão de interacções aloparentais, embora seja necessária uma análise às relações de grooming para fundamentar esta afirmação. Sugere-se que, no futuro, seja averiguado se o handling das crias representa uma troca de comodidades. Para isso poderá ser relevante saber se o grooming dirigido à mãe é imediatamente seguido pelo handling das suas crias. Um outro ponto a clarificar é se o handling das crias promove a formação de alianças entre o handler e a mãe ou seja se os handlers mais frequentes são aqueles que recebem mais frequentemente suporte agonístico por parte da mãe das crias.porEtologiaAnimais cativosPrimatasInteracção socialComportamento animalComportamento parental animalEthologyAnimal captativePrimatesSocial interactionAnimal behaviourAnimal parental behaviourInteracções aloparentais e comportamento materno num grupo cativo de macacos-capuchinho (Cebus Apella)master thesis