Baptista, Rita Gomes2011-01-142011-01-142007http://hdl.handle.net/10400.12/340Dissertação de Mestrado em EtologiaA maioria dos animais poderá demonstrar uma aprendizagem espacial quando procuram refúgio, parceiros, forrageiam ou mesmo quando fogem de predadores. No seu ambiente natural, os répteis demonstram que conseguem aprender e recordar tarefas espaciais. Foi sugerido que o contexto social poderá funcionar como uma vantagem selectiva para mecanismos espaciais cognitivos e desta forma seria de esperar que uma variação intrasexual pudesse influenciar uma cognição espacial. Num contexto espacial, os animais poderão usar uma estratégia espacial, na qual relacionam diversas pistas com o objectivo, ou possuírem uma flexibilidade comportamental para responder a diversas alterações do ambiente de forma a alcançar o objectivo. Esta flexibilidade comportamental é bastante importante, pois os animais que possuem uma flexibilidade elevada poderão alternar a sua resposta comportamental mesmo quando as pistas, o objectivo ou ambos, se alteram de uma forma inesperada. Neste trabalho estudei a variação intrasexual dos machos da lagartixa de Carbonell num teste de estratégia espacial (aprendizagem espacial) e num teste de flexibilidade comportamental (aprendizagem não-espacial). No campo, apesar de não ter testado completamente o comportamento territorial, observei durante algum tempo, o uso de espaço por cada macho e considerei um macho putativamente territorial quando ocupava uma área de ± 4 m2 e um macho putativamente não-territorial quando ocupava uma área superior. Neste estudo, refiro-me aos putativamente territoriais como machos territoriais e aos putativamente não-territoriais como machos não-territoriais. Se a variação intrasexual afecta uma cognição espacial, seria de esperar que os machos territoriais possuíssem um melhor desempenho que os machos não-territoriais. Se, na verdade, as lagartixas machos se orientam através do uso de uma flexibilidade comportamental, então seria de esperar que os machos não territoriais tivessem melhor desempenho na experiência de aprendizagem não-espacial. Tanto a experiência de aprendizagem espacial como a de aprendizagem não-espacial foram feitas numa arena circular com tampo metálico coberto por areia. Por baixo desse tampo, existiam 4 lâmpadas. No entanto, somente uma das lâmpadas era acesa por sessão o que gerava um quadrante aquecido que denominei de quadrante objectivo. Na experiência de estratégia espacial utilizei três pistas pretas: quadrado, circulo e triângulo. O círculo situava-se sempre no quadrante aquecido. Esta experiência teve uma duração de 16 dias em que, a partir do 7 dia, o círculo foi degradado a 50% (foi removido uma determinada quantidade do preto do círculo mantendo sempre a mesma forma); no décimo dia o círculo foi degradado a 75% e ao décimo terceiro dia o círculo foi removido. Para testar uma aprendizagem espacial, baseada nas pistas visuais, realizei um dia de teste em que a pista triangular e a pista quadrangular foram trocadas. Na experiência de estratégia não-espacial usei duas pistas pretas em que uma assinalava o reforço positivo (quadrante aquecido) e outra assinalava um reforço negativo (quadrante não-aquecido). A experiência teve uma duração de oito dias em que nos últimos quatro dias as pistas foram trocadas (a pista que assinalava anteriormente o reforço positivo passou a assinalar o reforço negativo). As observações foram analisadas com os programas Measuring in Motion, R, SPSS e JMP. Usei ANOVA factorial de medidas repetidas para analisar os efeitos de grupo, dia e territorialidade e pista, e também para comparar o último dia de treino e o primeiro dia de teste. Só apresentei as médias dos ângulos que apresentavam uma tendência direccional. Na experiência de estratégia espacial os machos não apresentaram um padrão de movimento aleatório na arena e mostraram aprendizagem, pois a latência diminuiu ao longo dos dias. Neste trabalho cronometrei a latência desde os primeiros movimentos dos quadris da lagartixa até parar pelo menos durante 30 segundos para termorregular. Não observei nenhuma alteração entre o último dia de treino e o teste. Os machos territoriais apresentaram aparentemente um desempenho melhor, no entanto só observei uma diferença estatística entre os machos territoriais e não-territoriais nas frequências de uso de quadrantes e desvio padrão da latência na experiência de aprendizagem espacial. Quando analisei os ângulos isoladamente, os dados mostraram que as lagartixas não se orientavam para o quadrante aquecido. Na experiência de estratégia não-espacial não observei uma alteração da latência ao longo dos dias. No entanto os machos mostraram uma preferência pelo uso da quadrante aquecido. Tanto na experiência de aprendizagem espacial como na de aprendizagem não-espacial, os machos de lagartixas de Carbonell não demonstraram uma aprendizagem baseada nas pistas visuais. No entanto, os machos não utilizaram uma estratégia aleatória e demonstraram aprendizagem espacial, Deste modo sugiro que as lagartixas usam um modelo de deslocação, pois reduziram ao longo dos dias o comprimento do seu trajecto até ao quadrante aquecido. Neste trabalho as lagartixas poderão não ter associado cada uma das pista à localização do quadrante aquecido devido à posição das mesmas, por variarem em cada sessão e porque o gradiente de temperatura poderá desviar a atenção às pistas. Estes resultados diferem dos que foram obtidos com tartarugas e cobras, mas não diferem dos de outras lagartixas. Este facto poderá ser devido a diferenças fisiológicas e fílogenéticas entre os animais e diferenças metodológicas entre os estudos. Neste estudo não observei a flexibilidade comportamental, pois os machos não conseguiram utilizar a informação potencialmente dada por cada pista e assim não perceberam quando as pistas foram invertidas. O facto de outros estudos, com répteis, terem observado uma flexibilidade comportamental poderá ser explicado devido às diferenças acima mencionadas. Os machos territoriais apresentaram um melhor desempenho geral em ambas as experiências. No entanto só observei uma diferença estatística nas frequências e no desvio padrão da latência, na experiência de estratégia-espacial. Não observei diferença estatística de latência e frequências entre os machos territoriais e não-territoriais. O facto da comparação entre os machos territoriais e não-territoriais ser confusa poderá ser devido a estes animais terem estado isolados um mês antes da experiências o que poderá ter confundido as características que influenciam as estratégias espaciais de cada grupo. Um modo de evitar a perda de algumas destas características em cativeiro seria o implantar as lagartixas com hormonas, já que as hormonas têm um efeito na capacidade cognitiva espacial e também no tamanho da área vital. Em conclusão, seria interessante testar em mais espécies de lagartixas o modelo de deslocação e averiguar especificamente se as lagartixas possuem ou não uma aprendizagem tigmotáctica. Neste trabalho a aprendizagem tigmotáctica foi dificultada devido ao quadrante aquecido variar aleatoriamente em cada sessão. Seria também interessante testar se as hormonas influenciam ou não o desempenho em tarefas de aprendizagem espacial e não-espacial de lagartixas, Palavras-chave: Lagartixa de Carbonell, estratégias putativas territoriais, aprendizagem espacial e aprendizagem não-espacial.engEtologiaComportamento animalAprendizagem especialCarbonell WallizardTerritorialiedadeEthologyAnimal behaviourSpecial learningTerritorialityThe relationship between field-determined putative territorial strategies and spatial and non-spatial learning in males of Carbonell's wall lizard, Podarcis Carbonelli berlengensismaster thesis