Garcia-Marques, TeresaSenos, Jorge2010-04-272010-04-272008http://hdl.handle.net/10400.12/207A ideia central das teorias contrafactuais de causalidade consiste no argumento de acordo com o qual afirmações do tipo “o antecedente C causou o resultado E” podem ser explicadas em termos contrafactuais condicionais do tipo “se C não tivesse ocorrido, E não teria acontecido”. Esta linha de pensamento, com raízes na definição de causalidade proposta por David Hume (1748/1910) é central à análise de causalidade contida na teoria proposta por David Lewis (1973), à qual os desenvolvimentos da psicologia nesta área muito devem. Menos preocupada acerca do que é uma causa, do que como é que as pessoas inferem causalidade, a psicologia adoptou, com base no conceito de simulação mental de mundos alternativos, uma perspectiva contrafactual da causalidade, sublinhando que o pensamento contrafactual influencia de duas formas a produção de conclusões causais acerca dos acontecimentos (e.g. Kahneman & Miller, 1986) e das pessoas (e.g. Lipe, 1991). A primeira fonte de informação resulta de a reversão contrafactual dos acontecimentos indicar o candidato causal desses acontecimentos. Quando dizemos que “se tivesse conduzido com menos velocidade o acidente teria sido evitado”, revertendo mentalmente este acontecimento através da X remoção contrafactual do excesso de velocidade, indicamos que a causa desse acidente foi o excesso de velocidade. Uma segunda fonte de informação para a conclusão causal, resulta de o pensamento contrafactual se constituir como um teste de verdade causal. Se a remoção contrafactual de um antecedente não for capaz de reverter um acontecimento, estamos na presença de uma co-ocorrência e não de uma relação causal. Pelo contrário, se a remoção contrafactual de um antecedente se mostrar eficaz na remoção do acontecimento, então a relação estabelecida entre o antecedente e o acontecimento, é de natureza causal. Esta linha teórica encontrou, na psicologia, suporte experimental através dos estudos de Wells e Gavanski (1989), ao demonstrarem experimentalmente que as pessoas consideram mais causal o antecedente que mudam contrafactualmente no sentido de reverter os acontecimentos, revelando uma convergência de enfoque entre o pensamento contrafactual e a explicação causal sobre um mesmo antecedente. Adicionalmente, Roese & Olson (1997), usando um paradigma experimental de facilitação, demonstraram que a realização de uma tarefa contrafactual facilita a posterior inferência causal, reduzindo significativamente os tempos de latência necessários à conclusão causal. Todavia, esta posição teórica, apoiada nos resultados encontrados experimentalmente, não ficou isenta de controvérsia, tendo sido desafiada pelos resultados experimentais que demonstram a existência de dissociação de enfoque entre os dois processos. N’Gbala e Branscombe (1995) encontraram evidência experimental de que o pensamento contrafactual se centra em condições necessárias para a ocorrência dos acontecimentos, enquanto a causalidade se centra em antecedentes suficientes. Por XI seu lado, Mandel e Lehman (1996) vieram demonstrar que o pensamento contrafactual se centra em antecedentes controláveis, enquanto a explicação causal se centra em antecedentes que covariam com o resultado. Adicionalmente, N’Gbala e Branscombe (2003) argumentando que o pensamento contrafactual requer a existência de conhecimento causal prévio ao pensamento contrafactual, estabeleceram uma inversão da noção de dependência entre os dois processos, suportada por resultados experimentais que demonstram que a realização prévia de tarefas causais facilita a realização posterior de tarefas contrafactuais, mas não o contrário. Estas inconsistências experimentais são explicadas com recurso a diferentes posições teóricas que defendem dependência contrafactual da causalidade, num caso, e dependência causal do pensamento contrafactual, no outro. O presente trabalho, situa-se no quadro deste conflito teórico e empírico sobre a natureza da relação estabelecida entre o pensamento contrafactual e o raciocínio causal. Ao longo de um programa de investigação contendo seis experiências, foi produzida evidência empírica que permite concluir que: a) o pensamento contrafactual e o raciocínio causal se encontram igualmente acessíveis, desafiando o conceito de precedência de uma tarefa sobre a outra com base no conceito de diferente nível de complexidade; b) a realização prévia de uma tarefa facilita a realização posterior da outra, com igual magnitude, estabelecendo um efeito de facilitação simétrica, contrariando assim anterior evidência experimental que sustenta efeitos de facilitação XII assimétrica de um processo sobre o outro, mas não o inverso; c) o enfoque produzido pelos dois processos sobre os antecedentes dos acontecimentos não qualifica este efeito c) ambos os processos requerem e ancoram num mesmo contexto causal mas não um no outro. A integração geral dos resultados é feita com recurso à proposta de um modelo de integração entre o pensamento contrafactual e a inferência causal que, explicando o padrão de resultados encontrados, permite igualmente harmonizar diferentes perspectivas teóricas.porPensamento contrafactual e raciocínio causal: Efeito de facilitação recíproca e modelo de integraçãodoctoral thesis101173970